Fotos e Fatos - a ambiguidade de Jânio



Por Cléber Sérgio de Seixas

Dizem que agosto é o mês do cachorro louco. A má fama do oitavo mês do ano é tributária de acontecimentos funestos como o início da Primeira Guerra Mundial; a detonação de duas bombas nucleares sobre o Japão, marcando o fim da 2ª Guerra Mundial; o início da construção do Muro de Berlim, entre outros. No Brasil, dois eventos corroboram essa má reputação: o suicídio de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, e a renúncia de Jânio. 

Há exatos 54 anos renunciava Jânio Quadros. “Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. (...) Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam...” - desabafava o presidente em sua carta renúncia.  Ainda hoje são misteriosas as causas da renúncia do 22º presidente do Brasil, que chegou ao poder sob os afagos da UDN de Carlos Lacerda. Tampouco são conhecidas as “forças terríveis” a que Quadros se referia. Alguns analistas especulam que Jânio, pressionado pelos espectros direito e esquerdo da política nacional, optou pela renúncia como saída estratégica visando a uma hipotética volta ao poder nos braços do povo. 

O governo de Jânio – que durou apenas 08 meses – foi marcado por muitas ambiguidades. Se, de um lado, Jânio foi capaz de condecorar Ernesto Che Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, além de restabelecer relações comerciais e diplomáticas com a URSS e a China, em plena Guerra Fria, de outro, reprimiu movimentos de esquerda e congelou salários, sem falar de anedóticas medidas como as proibições do uso de biquínis em transmissões televisivas de concursos de miss, das rinhas de galo e do uso de lança-perfume em bailes de carnaval. 

Em 21 de abril de 1961 o fotógrafo gaúcho Erno Schneider cobria o encontro de Jânio com o presidente argentino, Arturo Frondizi, que se daria sobre uma ponte que ligava as cidades de Uruguaiana (RS) e Libres, Argentina. No meio do evento, um tumulto assustou o presidente brasileiro, que se voltou, mas com as pernas enviesadas. Um clique congelou a imagem que sintetiza bem um governo que não sabia se ia para a direita, para a esquerda ou se permanecia no centro. 

A fotografia rendeu a Schneider o Prêmio Esso de Jornalismo de 1962 e o sagrou como um dos maiores fotógrafos brasileiros. 

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