Globalização, competitividade e inação
Por Cléber Sérgio de Seixas
Eis sábias palavras do saudoso professor Milton Santos:
“Neste mundo globalizado, a competitividade comanda nossas formas de ação. O consumo comanda nossas formas de inação.”
Estendendo um pouco o raciocínio, facilmente deduz-se que a competitividade, o darwinismo social, rechaçam práticas cooperativas e impõem uma predatória competição entre os indivíduos, reconduzindo-os a perigosos estágios primevos, o que se efetiva desconsiderando que a evolução humana se deu principalmente porque avançamos da competição para a cooperação.
Já o consumo, ou por extensão, o consumismo, substitui o pensar pelo sentir, o questionar pelo desfrutar, diluindo todo espírito inquiridor e a combatividade dele decorrente. Alguns indivíduos abraçam o pensamento único, as teses de "fim da história", e se lançam nas escuras águas da pós-modernidade, onde a relativização impede análises mais profundas da realidade e convida ao conformismo. A curiosidade não está mais em pauta. Conclui-se que o pensar dói e o questionar cansa.
Nunca se falou tanto em diversidade, mas o que se observa é uma massificação de hábitos - basta utilizar o transporte público para observar que todos têm celulares e smartphones, lêem os mesmos livros e se vestem diferentemente, porém sempre sob a égide da moda. Tal não seria um processo de diferenciação igualadora ou equalização diferenciadora? O certo é que globalização pressupõe homogeneização e conformação.
O mundo globalizado segue, assim, deformando pela exacerbação da competitividade e conformando pelo estímulo à inatividade.
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