A sociedade hegemônica

Il Quarto Stato, óleo de Giuseppe Pellizza 

Por Jeferson Malaguti Soares *

A hegemonia da sociedade é fator primordial e preponderante na construção da democracia. “Todo o poder emana do povo” é apenas uma frase retórica? Que poder é esse que emana do povo? Se for apenas o direito de votar, estamos perdidos.

Entendo que além de votar em pessoas, a sociedade deve e precisa encaminhar e exigir as reformas necessárias para o bom desenvolvimento da democracia. Reformas estruturais, como a política, a tributária e, hoje, a democratização da mídia. Para que isso aconteça, para que se construa e defenda o fortalecimento da democracia, a sociedade precisa ser ouvida e ter sua vontade respeitada pelo Parlamento. Para isto é importante garantirmos a Política Nacional de Participação Social. É através dela que a mobilização e a luta social influenciam as decisões governamentais. Não só as ações do executivo, mas também dos poderes legislativo e judiciário.

Não é possível que a Câmara Federal deixe de lado a iniciativa popular (quase 8 milhões de votos) pela campanha do plebiscito por uma Constituinte exclusiva e soberana a respeito do sistema político do país, que envolveu mais de 500 entidades da nossa sociedade.

Da mesma forma não é possível que continuemos tutelados por uma mídia monopolista e de oligopólios regionais. Uma mídia que acredita ser intocável, que acredita ser a liberdade de imprensa seu direito de injuriar pessoas, inventar factóides, mentir, torcer a verdade e, principalmente, escolher em quem bater, a quem perseguir. Uma mídia falaciosa, que tem lado, mas que deixa de lado seu dever de informar com isenção, de fazer um jornalismo sério, de ser imparcial. Nossa mídia suaviza quando o assunto diz respeito a um mal feito dos tucanos e exagera na adjetivação que implique em juízo de valor quando o alvo é Dilma ou Lula.

É importante a defesa do fortalecimento da democracia também no poder judiciário. É desumano que um processo demore uma vida inteira para ser julgado. É repulsivo conviver com juízes venais, em todas as esferas do judiciário. Os juízes do STF, por exemplo, deveriam ser escolhidos pelo voto popular. Para que servem algumas instâncias judiciais senão para dar oportunidade de os poderosos postergarem o julgamento de questões das quais são réus. Vide o caso do mensalão tucano. Uma vergonha. A polícia prende e o STF manda soltar bandidos como Daniel Dantas. É a suprema corte a serviço do golpismo, de sangrar a constituição.

Como é possível que se fale abertamente de impedimento de uma presidenta de caráter ilibado, sobre a qual não pesa qualquer processo de qualquer ordem? Como é possível pessoas que viveram sob a ditadura militar pedirem a intervenção militar? Como é possível um provecto como FHC incentivar tanta mentira contra Dilma? De Aécio Neves, José Serra, Álvaro Dias e outros safardanas, biltres do PSDB, é sabido que podemos esperar de tudo. Mas, de FHC, um ex-presidente, que se diz intelectual, que se exilou durante a ditadura, é duro ouvir certas sandices. A idade avançada, ao que parece, não o gratificou com a sabedoria. Não acredito também em senilidade. O certo mesmo é que FHC nunca foi o que parecia ser. Foi, e é, um grande mistificador, tal qual seu apaniguado Aécio Neves.

Enfim, a sociedade é que tem a propriedade hegemônica de conduzir os destinos do país. No entanto, ainda precisa escolher melhor seus representantes.


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Esportes na Prefeitura de Ribeirão das Neves, administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

Comentários