Violência - origem, consequências e solução

"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem." 

Por Jeferson Malaguti Soares *

“A violência se origina na sociedade excludente em que vivemos”-Leonardo Boff. Simples assim. 

A sociedade excludente se origina na sociedade capitalista, no mercado mundial, no Estado repressor, na minoria burguesa dominante e no descaso pela questão social. Essas são fontes inequívocas de uma violência devastadora, que estraçalha a dignidade humana.

A questão social, por exemplo, até há algum tempo, era tratada como assunto de polícia e não de políticas públicas. 

Violenta também foi a conquista do Brasil colônia. Violento foi o tratamento dado aos nossos índios. Violenta foi a nossa relação com os negros, com o trabalhador organizado em sindicatos e para com todos os pobres do país. 

É público e notório que o Estado legitimou o uso da violência através dos tempos. Militarizou as polícias.

Nossa colonização foi degradante. Nossa história foi escrita pelos brancos portugueses. Dela não participaram os índios, os negros, os mulatos, as mulheres e os pobres em geral. Nossa produção era escravagista. A violência praticada contra a população espoliada gerou violência contra os donos do poder.

Até 2002, 36% da população brasileira vivia na exclusão, sem direito a qualquer benefício social. Essa foi uma situação que se configurava em um estado de extrema violência praticada pelo Estado. 

Mas, apesar da mudança de paradigma quanto à miséria no Brasil, a partir de 2003, a violência persiste e cresce a cada dia. Há hoje quadrilhas nos grandes centros urbanos que se articulam, que têm braços espalhados pelo país, que obedecem a uma hierarquia, que se organizam.  É o poder paralelo ao Estado.  Nessas quadrilhas decide-se sobre a vida e a morte de membros de gangues inimigas. Mata-se para dar exemplo, para mostrar coragem, para eliminar um adversário ou pelo simples prazer de matar.

Soma-se a esse estado de coisas, o fato de nossa sociedade ser organizada na usurpação da força de trabalho frente ao valor do seu produto final. O modelo capitalista é extremamente predatório da força de trabalho, aviltada e degradada, e exclui boa parte da sociedade da divisão dos lucros gerados. O grande conflito entre o capital e o trabalho dá origem à luta de classes, com dominação permanente dos donos do poder – políticos corruptos, a mídia, industriais, enfim a burguesia.

Como se nada disto bastasse, a cultura globalizada de origem estadunidense nos impõe crises financeiras, econômicas, quando não a de caráter, onde a ética é artigo de segunda categoria. A corrupção grassa a partir dos donos do poder econômico. As classes dominantes estão convictas de que tudo podem. As classes dominadas sentem o peso do caráter violento, desigual e injusto de sua real situação. Está configurada a luta e a violência urbana.

Aproveitando-se disto a burguesia dramatiza a violência elevando-a a um nível de segurança nacional, de um problema nacional, tentando com isto jogar toda a responsabilidade pela sua existência no governo. Quanto pior, melhor. No entanto, esconde que a classe dominante é a que mais usa e se locupleta com a violência. Daí nasce o incentivo ao golpe militar. E é exatamente isto que a classe dominante quer. Mais violência, agora partindo dos militares, já que não conseguem o poder pelas vias naturais, pelo voto popular, usam os militares para se apoderarem dele e lhe devolver um pouco do poder perdido. Exatamente como fizeram em 64, de triste memória.

Precisamos urgentemente refundar a democracia para que seja realmente participativa, que respeite a dignidade humana, e que rejeite a violência como forma de adquirir poder.

Ocorre que isto não pode ser conseguido enquanto o capitalismo ditar as regras no planeta. O capitalismo não respeita o ser humano. Não humaniza, demoniza. Torna-o cruel em busca de mais poder, mais dinheiro, mais bens materiais, independente se para isto precise matar, agredir ou espoliar o outro. Mais uma agravante para a violência urbana.  O militarismo, por sua vez, é agressivo, recalcitrante, renega os diferentes, é conservador e radical. Não usa de argumentos, usa armas. Não escuta, dá ordens.

Não nos resta outro caminho que não seja, através do socialismo democrático, buscar o equilíbrio das forças que advêm da formação da sociedade, e a revisitação dos conceitos de cidadania, ética e probidade. 

Sem socialismo não há luz no fim do túnel. Sem socialismo não há esperança para o mundo.


* Jeferson Malaguti Soares é administrador, consultor de empresas e colaborador deste blog.

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