A mídia que esperneia

Por Jeferson Malaguti Soares

Quando nossa mídia esperneia pela sua liberdade, acusando o Governo Federal de querer regulá-la, ela tem toda razão. Regular a imprensa significa tirar dela a irresponsável  liberdade que permite que minta, que invente, que crie fatos, que influencie a opinião pública contra as autoridades constituídas, que manipule a notícia, que esconda as mazelas da oposição, que privilegie o individualismo capitalista contra ações coletivas de programas sociais do governo.

A mídia nacional, com raras e honrosas exceções, a revista Carta Capital é uma delas, banalizou a profissão de jornalista, ridicularizou os antigos e corretos profissionais do ramo, deu-se o direito de manipular fatos, inventar notícias, criar campanhas para desacreditar pessoas.  Engajou-se na mais retrógrada organização político-ideológica, aquela que privilegia exclusivamente interesses econômicos de rentismo do capitalismo neoliberal.

O jornalista da grande mídia desempenha sua  função ostentando a ideologia dos patrões, suas opiniões e preferências. Não tem hoje o jornalista o espírito crítico e  imparcial que deveria predominar  na independência do desempenho de sua atividade. Não pode assumir compromisso apenas com a isenção na cobertura dos fatos e não pode ter liberdade de expressão, já que sofre censura dentro de sua própria redação. Não lhe é permitida responsabilidade moral pelas informações que coleta e transmite.

Nossa pobre – não no sentido material, mas no espiritual – grande mídia não se propõe a realizar um jornalismo crítico, apartidário e pluralista. Critica apenas um lado escondendo as mazelas do outro, opta pela  direita reacionária e entreguista como partido e adota  atitude de dependência em face de grandes grupos econômicos. Trata notícias e ideias como mercadorias de refugo, sem qualquer rigor técnico. Não acredita na democracia, já que não atende livre, eficiente e diversificadamente a demanda coletiva  por informações. Não busca uma relação de transparência com a opinião pública. Aliás, tudo faz para confundir opinião pública com opinião publicada.

A mídia nacional, que anda e sempre andou a reboque da imprensa estadunidense, condena publicamente qualquer tipo de ingerência do poder do Estado sobre a atividade que exerce, luta contra a censura, em qualquer forma que assuma, mas não considera censura a maneira como edita as notícias, cerceando a liberdade de opinião de seus jornalistas. Não considera censura quando impõe ao seu conselho editorial unicamente os conceitos e diretrizes dos donos da empresa jornalística, os quais são, pela sua natureza burguesa e sectária, unilaterais e partidários da direita.

A Constituição de 1988 diz que é “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença” (artigo 5º, inciso IX). Também diz que “nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social” ( artigo 220, parágrafo 1º). No entanto não existe qualquer referência  permitindo que crimes praticados por intermédio da imprensa, como os de calúnia e difamação, por exemplo, estejam isentos de punição.  Não prevê também a Constituição que órgãos da imprensa estejam isentos de responsabilidade civil e criminal pelos abusos cometidos, abusos e crimes esses que acompanhamos diariamente na mídia nacional, a partir das eleições dos governos populares há pouco mais de dez anos.  

Regular essas questões precisa alcançar nossa mídia, a fim de frear sua irresponsabilidade no trato das notícias e das palavras. Regular não é censurar.

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