Para que o Senado?
Por Jeferson Malaguti Soares*
Não só na política, mas em
qualquer segmento ou momento da vida, crise pode se transformar em oportunidade. Não
confundir oportunidade com oportunismo barato. A crise desencadeada pelas
recentes manifestações públicas, sem dúvida, é uma bela oportunidade que se
abre para reformas no país.
A principal e a mais necessária é
a reforma política. Dela vão surgir as outras, tão ansiadas pela população.
Tudo na vida se transforma pela política, através dela. No meu entender, uma
reforma política ampla e irrestrita, que atinja desde a regulamentação do
financiamento de campanhas, passando pela regulação de partidos políticos, até
a discussão sobre a necessidade de se manter um Senado Federal – vou além da
extinção dessa degenerescência que é o suplente -, além de minimizar
consideravelmente a oportunidade da corrupção, servirá para aproximar os
políticos daqueles que os elegeram, hoje distanciados, principalmente, pela
excrescência do voto secreto em plenário e nas comissões.
A reforma vai incentivar as
discussões internas nos partidos e no legislativo, não apenas através da
hegemonia de determinado grupo, mas em torno de projetos, cujos focos estariam
voltados exclusivamente ao benefício da população.
Hoje e, desde sempre, faz-se
oposição apenas para ser do contra.
Pior, sem projetos para a nação, sem propostas, o cinismo leva a
oposição a condenar no governo as mesmas atitudes de quando era situação. O que
prevalece na sociedade é o corporativismo. No Congresso, na mídia, no meio
rural, na área da saúde, nas religiões etc. Vale tudo para defesa da classe.
Nesse contexto o povo nunca é considerado.
Em outro viés da política
nacional, gostamos de copiar os EUA. Mas só naquilo que interessa aos políticos
de plantão. Vamos então nos remeter a algumas comparações:
Ora, temos população 25% menor que
a dos EUA e 20% a mais de deputados. Lá são dois senadores/estado da federação.
Aqui, três. Lá o Distrito Federal não tem deputados nem senadores, aqui os há. Apesar
da renda per capita de nossa população ser 45% menor que a da população dos
EUA, nossos deputados custam 20% a mais que os deputados de lá e nossos
senadores 50%. Com relação aos países europeus a discrepância é ainda muito
maior. Só a título de exemplo, nossos parlamentares custam o triplo da Assembleia
Nacional francesa.
O Congresso Nacional brasileiro
custa ao país cerca de U$ 9 mil por minuto. Esse dinheiro sai dos nossos
bolsos. O trabalhador brasileiro que ganha salário mínimo, com as obrigações
sociais incluídas, custa 94 centavos de dólar/ minuto aos patrões. Tudo isso,
sem considerar os legislativos estaduais e municipais, números que certamente
onerariam nosso erário muito mais que o
dos EUA.
Dito isso, pergunto: o que
justifica a existência de um Senado Federal por aqui? O que justifica um número
tão alto de deputados federais? Proporcionalmente deveríamos ter apenas 326. O
que justifica um custo tão absurdo do Congresso para o país? A economia anual
para os cofres públicos com a extinção do Senado seria da ordem de U$ 500 milhões.
Reduzindo o numero de deputados a economia anual seria de quase 200 milhões de
dólares.
Assim, o Senado poderia ser
extinto, bastando realizar mudanças na Constituição para acabar com o
bicameralismo que torna a tramitação parlamentar mais lenta e permite mais
negócios em torno de projetos e pareceres.
Há, porém, quem alegue que sendo
uma República Federativa, o Brasil precisa ter uma casa de representantes dos
estados. Como se sabe, na Câmara dos Deputados estão os representantes do povo
e no Senado Federal os dos estados federados. Mas então eu pergunto aos meus
botões: como pode um estado como São Paulo, que contribui com 33% do PIB
nacional ter o mesmo numero de senadores de Roraima, que tem PIB negativo? Isto é federalismo?
Estamos com a faca e queijo na
mão. A ocasião é mais que propícia para
que mudanças radicais sejam feitas. A participação da massa popular nas
manifestações de desagrado com o estado de coisas que nos assola, precisa ser
devidamente considerada e aproveitada pelos poucos parlamentares de bem que nos
restam.
O significado da palavra
participação é tomar parte, fazer parte e ter parte em algum empreendimento.
Portanto, é preciso que todos os parceiros, os formalizados, os não
formalizados, a comunidade e seus jovens, tomem parte, façam parte, tenham
partes de responsabilidade para que consigamos mudar o Brasil para melhor.
JOVENS BRASILEIROS, ASSUMAM A
PARTE QUE LHES CABE NESSE LATIFÚNDIO!
* Jeferson Malaguti Soares é membro do comitê político do PCdoB de Ribeirão das Neves/MG.
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