Superando o capitalismo

Por Jeferson Malaguti Soares *

A exploração do homem pelo homem remonta aos primórdios da humanidade, na medida em que foram sendo criados conceitos discriminatórios sobre a propriedade, a produção, a distribuição e o consumo de produtos básicos para a sobrevivência humana. Desses conceitos e preconceitos, nasceram os princípios da Economia da Produção (“... a economia é o estudo dos métodos pelos quais a comunidade tira proveito dos bens materiais.” – Veblen, 1857/1929) e da Economia Politica (“... a economia política trata principalmente dos interesses materiais das nações. “ – Roscher, 1817/1894).

A partir daí surgem, então, o mundo rico e o mundo pobre. As categorias de nações desenvolvidas e as subdesenvolvidas. Os ricos e contumazes consumidores dos bens e as populações subnutridas, analfabetas, carentes e absolutamente dependentes das regiões economicamente desenvolvidas, dos ricos.

Mas existe pobreza também nos países mais ricos, haja vista que nem todas as pessoas vivem confortavelmente nas nações abastadas. Em toda parte há pelo menos um terço ou um quarto da população constituída por gente verdadeiramente pobre, mal vestida, mal abrigada e mal nutrida.

Por que há tantos pobres no mundo? Por que isto acontece, apesar da evolução tecnológica que privilegia seguidamente a produtividade no campo? Por que os níveis de vida variam tão grandemente? Por que tudo isso acontece, se a natureza é pródiga na fartura? Simples: além da discriminação racial, étnica, ideológica, religiosa e social, países subdesenvolvidos são administrados também por governos subdesenvolvidos, mantidos no poder pelas nações mais poderosas que, para continuar liderando, fomentam a discórdia, a violência e a guerra, contribuindo enormemente para o empobrecimento de um povo ou de uma civilização inteira.

Nota-se, com bastante clareza, que a pobreza está sempre sendo gestada pelos países mais poderosos, a fim de que não fuja de seu controle. É importante que ela seja mantida, tanto para a economia quanto para a manutenção do poder dos mais ricos sobre os mais pobres. Estes são obrigados a consumir produtos de segunda classe, que não mais interessam aos abastados, além de contribuir com matéria prima, com baixo ou nenhum nível de industrialização, a preços aviltados.
A necessidade premente do homem advém da falta de artigos de consumo e/ou do uso imprudente dos artigos de consumo disponíveis. O desperdício, a ostentação, a vaidade, a superstição, os costumes, o ser humano coloca acima de suas necessidades fisiológicas primárias e da generosidade que precisavam estar presentes nos seus mais comezinhos princípios éticos. Tudo isso são ingredientes da teoria econômica clássica, ortodoxa, fomentada pelo regime capitalista, que também pode ser chamada de teoria do valor ou do capital (capitalismo). Essa teoria encontra-se em regime falimentar, na medida em que vem privilegiando, de longa data, a especulação financeira, o ganho de capital pelo capital, pela usura, pela agiotagem de Estado, em detrimento do investimento na produção e na distribuição social da riqueza.

Os governos populares de Lula e Dilma no Brasil, nos últimos 10 anos, vêm desmontando passo a passo esse regime cruel e perverso. A crise iniciada em 2008 mostra, prodigamente, que os países ricos estão colhendo exatamente o que vêm plantando há décadas.

Considerando que o proletariado - trabalhadores em geral - foi e é sempre estimulado a se contentar com pouco conforto, que os artigos de consumo e os fatores de produção, em especial a terra, são pródigos e capazes de satisfazer as suas necessidades, pouco exigentes; aliado ao fato de que no regime capitalista existe claramente uma relação cruel entre a produtividade marginal e a extensão dos rendimentos (alegando mentirosamente que cada um recebe pelo que produz) e, também, considerando que toda teoria econômica burguesa não passa de uma serie de emendas bizarras, sem base alguma na filosofia social, descartando o homem trabalhador dos benefícios da produção para a qual contribui com sua força, chegamos finalmente num momento único pelo qual a classe operária se despede da alienação política e econômica e, começa a se transformar, de mero instrumento da produção para potencial classe de consumo, exigente tanto na qualidade quanto na quantidade do seu ganho, consciente de que nada deve aos patrões que não tenha sido previamente acordado, sem jugo.

Como previu Antonio Gramsci (1891/1937) em seu “Escritos Políticos“, volume 1, no começo do século passado, “... o operário adquiriu consciência de sua função no processo produtivo, em todos os seus graus, desde a fábrica até a nação, até o mundo.” A partir dessa conscientização demos início ao processo, lento, porém firme e inarredável, de superação do capitalismo e da especulação financeira, rumo ao socialismo. Este é um caminho sem volta, irreversível.


Obs.: Artigo revisto, publicado inicialmente na Tribuna de Debates do jornal Classe Operária, por ocasião do 12º Congresso do PCdoB em 2009.


* Jeferson Malaguti Soares é membro do Comitê Político do PCdoB de Ribeirão das Neves.

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