Palestina colonizada

Por Jeferson Malaguti Soares *

Li ontem em um jornal da capital, que não se consegue saber quem começou os conflitos entre judeus e palestinos, como também não se sabe quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Ora, apenas quem não tem um pingo de conhecimento da História, ou usa de má fé, pode afirmar isto. Senão, acompanhem o relato a seguir e depois tirem suas conclusões:


“Não alcançaremos nosso objetivo de nos tornarmos um povo independente convivendo com os árabes neste pequeno país. A única solução é a Palestina sem árabes... e não há outro caminho que não seja a transferência dos árabes para os países vizinhos; transferir todos eles; nenhuma vila, nenhuma tribo pode ser deixada de pé”.


O autor dessas palavras foi ninguém menos que o chefe do Departamento de Colonização da Agência Judaica, Iossef Weitz, ao esboçar o projeto de Israel, às vésperas de sua constituição, em fala para o público judeu. Para os estrangeiros a conversa era outra.


Daí começaram as invasões e a construção de habitações judias em terras palestinas. Deram a isso o nome de colônias. E, por mais que a ONU e os próprios governos estadunidenses insistam com Israel para que cesse de uma vez por todas as construções de novas colônias na Cisjordânia, e agora em Gaza, as admoestações são insolentemente ignoradas pelo Estado judeu. Israel persegue seu arrogante objetivo de, cada vez mais, incentivar a diáspora palestina.



O despovoamento da Palestina e a expulsão de sua população árabe foram intensamente perseguidos de 1948 a 1952, a partir de uma política de limpeza étnica planificada pelo Estado sionista. Depois dessa fase mais intensa, as agressões prosseguiram de forma intermitente ao longo da história de Israel.


Mesmo diante do apartheid montado contra os palestinos, praticado com uma sanha assassina, ensandecida, havia resistência. Havia constantes tentativas por parte dos palestinos de voltar ao lar de onde tinham sido expulsos. A direção do Estado sionista percebeu, de forma cada vez mais clara, que somente com a instituição permanente da repressão e do terror, o seu projeto de um Estado puramente judeu poderia ser colocado em prática e, assim, agiu e tem agido de forma fria, calculista, planejada e, em uma escalada constante no nível da agressão, da repressão e do terror.


Desde o inicio da proposta sionista de se constituir um Estado judeu, de 1944 a 1948, foram encontradas em Israel as ruínas de cerca de 250 aldeias árabes destruídas no período. Estudos atualizados falam em 417 locais, entre vilas, cidades, bairros e povoados. A destruição dos locais acontecia imediatamente após a expulsão de seus habitantes. Inclusive as plantações eram queimadas e as terras envenenadas para que não mais pudessem produzir.


Israel usa jatos de ataque sofisticados e navios militares para bombardear campos de refugiados densamente povoados onde há escolas, blocos de apartamentos, mesquitas e cortiços. Ataca uma população que não dispõe de defesa aérea, marinha, armas pesadas, artilharia, blindados móveis, comando central, exército regular, e ainda chama isso de guerra? Isso não é guerra, é assassinato! Israel e os EUA são criminosos de uma guerra de extermínio em massa. A mídia internacional, a nossa a reboque, não se farta de falar em guerra, quando, na verdade, trata-se de um crime contra a humanidade.


Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos aos palestinos? Os EUA? Acredito que sim. Vejam que a renda per capita dos judeus é quase o dobro da dos não-judeus, nos EUA; dezesseis dos quarenta americanos mais ricos são judeus; 40% dos ganhadores estadunidenses do prêmio Nobel de ciência e economia são judeus, assim como o são 20% dos professores das maiores universidades de lá e 40% dos sócios das grandes firmas de advocacia de Nova York e Washington. A identidade judaica tornou-se um coroamento da aliança estratégica com os EUA.


Assim sendo, Israel transformou-se plenamente em um representante dos EUA no Oriente Médio, apoiando as ambições globais norte-americanas com um caráter de alinhamento pró-imperialista e antiárabe.


A partir desses pequenos exemplos, até o menos intelectual nos mundos mineral, animal ou vegetal consegue enxergar quem usurpa quem, quem, na verdade, deu início a essa carnificina. Os judeus querem fazer e acontecer contra o povo palestino e ainda querem que ele não reaja. Querem que o povo palestino aceite covardemente o destino imposto por um país criado sobre sua civilização já existente há séculos, ultrajando sua religião, suas convicções, suas crenças. E tudo isso sob a proteção da nação mais militarizada e armada do planeta, os EUA.


Não se trata mais, pois, de adivinhar quem veio primeiro, o ovo ou a galinha.


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Comunicação no Comitê Municipal do PCdoB/Ribeirão das Neves e colaborador deste blog.


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Fontes:


BRAIA,  Nathaniel. O apartheid de Israel. São Paulo: Alfa-Omega, 2002.

CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO, Editora Terceiro Mundo LTDA. Ano VII, n. 69, ag. 1984. Mensal.

FINKELSTEIN, Norman G.. A indústria do Holocausto. Rio de Janeiro: Record, 2001.

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