Lula e o PT: das cordas à lona

 
 Balboa apanhava muito mas reagia

Por Cléber Sérgio de Seixas

Em um dos mais hilariantes episódios de “Todo mundo odeia o Chris” (Everybody Hates Chris), série televisiva atualmente exibida pela Rede Record, o personagem do título resolve se aventurar no mundo do boxe. Rapidamente Chris se destaca no esporte que consagrou Muhammad Ali e Mike Tyson. No entanto, a competência do tragicômico personagem no pugilato não se devia a jabs, cruzados ou ganchos, mas, e tão somente, às suas esquivas. Bastou o esquivo Chris ser desafiado por um lutador mais experiente, para sua habilidade no pugilismo ser desmistificada e ele sair do ringue desacordado.

No embate que se desenrola desde os primeiros anos da década passada, o PT tem se comportado de forma semelhante ao personagem supracitado. Uma série com Lula como protagonista poderia chamar-se “Todo mundo odeia o Lula”. Entenda-se por “todo mundo” uma burguesia que jamais engoliu ou engolirá o sapo barbudo petista.

Desde o início do mandato, e mais ostensivamente por ocasião do julgamento da Ação Penal 470, Lula, e por extensão o PT, têm sido fustigados por  uma oposição musculosa em função do apoio de uma imprensa burguesa e golpista. Vazia de propostas diante de um governo que, por exemplo, tirou mais de 40 milhões da pobreza, tal oposição tem sido cevada por uma mídia conservadora acostumada a apoiar golpistas e dar-lhes o fôlego suficiente para ficar no ringue – o termo golpistas aqui tem duplo sentido.

Nessa luta que já dura quase 10 anos, não faltam golpes abaixo da linha da cintura. Lula já foi apontado como responsável pela morte de vítimas de acidente aéreo, acusado de estuprador, abortista e outros infames adjetivos. Atualmente é apontado como mentor e beneficiário do assim chamado “mensalão”, ainda que as acusações careçam de provas. Os golpes não cessaram nem quando ele contraiu câncer. O PT por sua vez, e apesar de todas as conquistas nos campos econômico e social nos governos Lula e Dilma, continua sendo tratado como o paradigma da corrupção, como se somente em seus quadros houvessem corruptos. O que é apurado pela Ação Penal 470 é vendido pela oposição e por seu porta-voz, a mídia conservadora, como o maior escândalo político da História da República. 

O ex-presidente e seu partido se esquivam. A última e relevante capitulação foi na CPI do Cachoeira, quando o relator, o deputado federal Odair Cunha (PT), retirou do relatório da CPI os nomes do procurador geral da República, Roberto Gurgel, e do jornalista da revista Veja, Policarpo Júnior. O segundo, como é de conhecimento até do mundo mineral – expressão que tomo emprestada do nobre Mino Carta – transformou o panfleto fascistóide chamado Veja numa máquina de destruir reputações a serviço de um marginal chamado Carlinhos Cachoeira.

Esquivar é uma forma de anti-luta que acarreta perda de pontos e fadiga, não a vitória. Ninguém vencerá seu adversário simplesmente deviando-se de seus ataques. Até o momento, a estratégia da esquiva tem dado algum tempo a Lula, mas os ponteiros do relógio não param e quando menos se espera, a luta acaba – 2014 está mais próximo do que supõem as vãs esquivas lulo-petistas. Até agora o comportamento esquivo tem surtido algum efeito, mas um vacilo pode levar às cordas. Até quando conseguirão se esquivar dos constantes golpes do denuncismo da oposição que flui copiosamente através dos canais midiáticos do PIG (Partido da Imprensa Golpista)?

A impressão que fica é que nos últimos rounds, o PT e Lula parecem estar nas cordas e prestes a jogar a toalha. Se ambos não reagirem na forma de golpes em seus adversários, podem ir à lona a qualquer momento e só retornarem às lutas daqui a uns 20 anos, quando pode ser tarde demais em função dos estragos neoliberais no país, nos corações e nas mentes.

Os nomes dos golpes a serem utilizados pelo PT são bastante originais: Lista de Furnas, denúncias do livro Privataria Tucana, “mensalão” tucano, compra de votos para a emenda da reeleição durante o governo de FHC e outras tantas pancadas fulminantes.

Nós que estamos na torcida ficamos atônitos com a falta de combatividade do PT e de seu filiado mais ilustre. Parece que todos sabem o que deve ser feito, com exceção do combatente pelo qual torcemos no tablado retangular. É como numa partida de futebol em que o estádio inteiro sabe o que deve ser feito, quais substituições devem ser efetuadas, qual a tática de jogo a ser utilizada, exceto os jogadores e o treinador.

Uma diferença da luta que ora se desenrola e as tradicionais disputas de boxe, é que na primeira cada lutador incorpora os anseios das classes que representa. Tratam-se de lutadores coletivos. Tal qual na Antiguidade se escolhia o melhor guerreiro de cada exército para evitar um confronto com perdas colossais de ambos os lados no campo de batalha, assim também a burguesia tem seu campeão e o povo brasileiro o dele. Os que viram sua situação sócio-econômica melhorar na última década torcem por seu campeão. A derrota poderá ser a de todas as forças progressistas, que com muito suor e sangue conseguiram fazer do Brasil um país democrático no pós-ditadura, além de romper com a hegemonia de quase 500 anos da casa-grande sobre a senzala
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A torcida, pois, pede que Lula e o Partido dos Trabalhadores saiam das cordas. Pede que reajam à altura dos golpes que lhes são desferidos. Espera que cada esquiva seja apenas uma estratégia para um contra-ataque. Se não houver essa reação, temo que Lula, o PT, os partidos progressistas e todo o povo brasileiro em breve beijarão a lona.

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