O paladino da imprensa conservadora
Veja lança a candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência em 2014.
Por Cléber Sérgio de Seixas
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o ministro
Joaquim Barbosa (STF) deu declaraçãos heterodoxas do ponto de vista da oposição
e grande imprensa. Por exemplo, disse que a mídia e o empresariado brasileiros
são todos brancos e conservadores e que vê "dois pesos e duas
medidas" na cobertura da imprensa que "nunca deu bola para o mensalão
mineiro". "Todas as engrenagens de comando no Brasil estão nas mãos
de pessoas brancas e conservadoras”, salientou ele em outro trecho da
entrevista. Afirmou também que vota em Lula desde 1989 e votou em Dilma nas
últimas eleições presidenciais. Disse também que nunca foi procurado por Lula
ou Dilma para tratar de assuntos referentes ao “mensalão”.
As afirmações de Barbosa à Folha desmontam parte da
estratégia da oposição e de seu braço midiático de demonizar Lula e o PT
aproventando-se do julgamento da Ação Penal 470.
Sem um nome de peso para disputar o Planalto com Dilma (ou
Lula?) em 2014, a
oposição pode não retornar ao poder nas eleições vindouras. Seria Barbosa um
nome à direita a ser trabalhado pela mídia visando às próximas eleições
presidenciais? A capa da última edição da revista Veja fornece um indício.
No entanto, as declarações do futuro presidente do STF não
se coadunam com a ideologia conservadora da elite tupiniquim, propagada aos
quatro ventos pela sua mídia que ora faz as vezes de partido político.
Para horror de Ali Kamel (Ex-Diretor Geral de Jornalismo da
TV Globo que escreveu o livro “Não Somos Racistas”), Barbosa disse à Folha que
o racismo o acompanha desde sua infância. "O racismo parte da premissa de
que alguém é superior. O negro é sempre inferior. E dessa pessoa não se admite
sequer que ela abra a boca. 'Ele é maluco, é um briguento'. No meu caso, como
não sou de abaixar a crista em hipótese alguma...". Se um ministro do
Supremo Tribunal Federal é vítima do racismo, o que dizer de milhares de
brasileiros estigmatizados pela pobreza e pela cor da pele?
As declarações de Barbosa, portanto, jogam contra o tão caro
aos conservadores mito da democracia racial brasileira. Faltou perguntar ao
ministro se ele é a favor ou contra as cotas para negros nas universidades
públicas.
O resultado das eleições de 2012 mostra que o discurso
udenista carregado de indignação seletiva e adotado pela direita nativa não
está rendendo os dividendos eleitorais esperados. Se o “mensalão” iria sepultar
o PT, as estatísticas provam o contrário. O Partido dos Trabalhadores
conquistou 14% a mais de prefeituras em relação às eleições de 2008, enquanto o
PSDB conseguiu 13% menos. A direita conservadora já teve tempos “melhores” com
Lacerda e seu “mar de lama”.
Se o PT obtiver vitória em Sampa, o nome de José Serra irá
para o limbo político nacional e figuras alternativas no PSDB como Aécio Neves e
Geraldo Alckmin, o bon vivant e o
picolé de chuchu, respectivamente, ainda carecem de peso político. No afã de
abrir caminho para as eleições de 2014, a oposição aposta todas as fichas no
mensalão, e no âmbito do mesmo tenta pinçar um nome alternativo. Ao que tudo
indica, esse nome é Joaquim Barbosa.
Depois da entrevista à Folha, o que dirão de Joaquim Barbosa
os arautos da mídia golpista que anseiam transformá-lo numa espécie de paladino
da justiça e, quiçá, candidato da oposição em 2014?
Esperemos para ver o posicionamento do ministro do Supremo
quando do julgamento do “mensalão tucano”, algo que a grande imprensa guarda a
sete chaves em sua caixa-preta. De acordo com o parecer do ministro, ele pode
seguir perante a mídia golpista como um super-herói de manto negro, paladino da
decência e moral, quem sabe um “preto com alma branca”, ou como um negro
valentão que chegou ao Supremo Tribunal Federal indicado pelo presidente mais
corrupto da história desse país.
As declarações de Barbosa à Folha sugerem o contrário do que está estampado na capa da edição 2290 de Veja. O menino pobre que mudou o Brasil foi Lula ao fazer um governo que permitiu que outros meninos negros e pobres como Barbosa tivessem mais condições de estudar e, consequentemente, mais possibilidades de chegar ao universo jurídico nacional.
Comentários