Hobsbawm, um historiador de princípios

 Eric Hobsbawn: *1917  +2012

 Hoje, 1º de outubro de 2012, faleceu o historiador britânico Eric Hobsbawm, que talvez tenha sido o maior estudioso da História Contemporânea.

Por Thomas de Toledo*

Em sua carreira, Hobsbawm jamais deixou de lado seus princípios. Compreendia que o discurso histórico e historiográfico de forma alguma é neutro, e por isto foi também um militante político, contribuindo como poucos com as lutas sociais de seu tempo. Hobsbawn era marxista, e mesmo em tempos de debacle jamais negou suas raízes. Ao contrário, aperfeiçoou-as, pois as fundamentava em um método que era o materialismo dialético. Este método consiste em compreender as transformações históricas como produtos das contradições concretas (por isto dialético) da realidade concreta (por isto materialista). Assim, suas análises conseguiam ser profundas e sutis, sempre se baseando na verdade histórica.

Hobsbawm esteve entre os grandes historiadores marxistas britânicos como Perry Anderson, E. P. Tompsom e Christopher Hill, que sabiamente enfrentaram no debate acadêmico as correntes historiográficas fragmentadoras como a Nova História. Porém, dentre todos os citados, Hobsbawm destacou-se por ter se colocado o desafio de escrever a macro-história de nosso tempo, demonstrando uma visão da totalidade, sem negar suas contradições e o seu ponto-de-vista de um britânico socialista. Era, dessa forma, um historiador de “eras”.


Dentre as obras de Hobsbawm, destacam-se as quatro “eras”: ‘A Era das Revoluções’ (1789-1848), ‘A Era do Capital’ (1848-1875), a ‘Era das Revoluções’ (1875-1914) e a ‘Era dos Extremos’ (1914-1991). Na primeira, compreendeu o processo que levou às mais radicais transformações que até então o mundo presenciara – sua dupla revolução: a industrial e a francesa. No segundo, entendeu o processo de consolidação do capitalismo como sistema econômico hegemônico no planeta. No terceiro, percebeu que a metamorfose do capitalismo concorrencial para o capitalismo monopolista levaria a uma nova fase deste sistema: o imperialismo. No quarto, compreendeu que a contradição entre tais impérios levou o mundo a uma guerra de duas etapas (1ª e 2ª Guerras), e que seu desfecho foi a disputa de dois projetos distintos de sociedade: capitalismo e socialismo. Conclui, porém, que a experiência histórica do socialismo serviu como precioso ensinamento para experiências futuras, e que a luta dos povos para superar a exploração do homem pelo homem estava apenas no começo.

Esta sede revolucionária fica patente em seu último livro: “Como mudar o mundo”, mas também em sua autobiografia “Tempos interessantes”. Dentre suas obras importantes, poderia também incluir “Nações e Nacionalismo desde 1780” e “A invenção das tradições”, no quais destrinchou o fenômeno da nação e do nacionalismo como produtos históricos. Finalmente em “Globalização, democracia e terrorismo”, Hobsbawm já começou a apontar para os desafios do século 21.

Registro, portanto, esta homenagem a alguém que foi sem dúvida um dos maiores historiadores não apenas de nosso tempo, mas de toda a história. A despeito de suas posições políticas claras, em todos os meios, acadêmicos ou não, Hobsbawm fora sempre respeitado. A ciência da História perde um grande investigador, mas seu legado de historiador e militante fica para todos aqueles que ainda acreditam que há “como mudar o mundo”.


* Thomas de Toledo é historiador pela USP, mestre em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp e secretário-geral do Cebrapaz.

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