Hebe Camargo e o "mensalão"

Hebe (à esquerda) e as cansadas "musas" do movimento "Cansei"

 Por Jeferson Malaguti Soares *

Não sei se apenas eu consigo separar a artista de TV Hebe Camargo, da pessoa Hebe Camargo. Entusiasta do golpe de 64 – inclusive, participou da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, entrevistou a partir de 1971 várias figuras dos governos da época, até a esposa de um presidente de plantão –, eleitora e cabo eleitoral de Paulo Maluf, deu seu apoio a Fernando Collor contra Lula, aliás, era anti-petista de carteirinha e não escondia sua preferência pelos tucanos paulistas. Participou do malfadado "Cansei", movimento conservador e elitista cujo objetivo era desgastar a imagem do governo Lula, de que participavam socialites, empresários e algumas "celebridades", a exemplo de Regina Duarte, Ivete Sangalo, João Dória Júnior, Luiz Flávio Borges D'Urso e Ana Maria Braga.

Fico muito triste ao ver quantas rainhas e reis a mídia entroniza a cada dia em nossas vidas, seja na televisão, nos esportes ou na música. Poucas dessas pseudo-realezas contribuem ou contribuiram, efetivamente, com a cultura nacional. Servem, isso sim, para vender comerciais e mexer com a nossa sensibilidade, no afã de não nos deixar pensar nos problemas da nação.

Longe de mim criticar a desenvoltura de Hebe frente às câmeras, nem mesmo aquela alegria que todos comentam, mas que a mim nunca contagiou, sempre me deixando a impressão de ser jogo de cena. Não vou me alongar nesses quesitos, haja vista que nunca assisti a um programa da Hebe em sua íntegra. A felicito, se é que se pode felicitar a um morto, pela longevidade na vida artística.

A mídia servil de nosso país continua explorando a morte da longeva apresentadora e, com o mesmo vigor, aplaudindo os juizes do STF. A corte suprema do Paraguai está fazendo escola por aqui. Depois de defenestrar do poder um presidente legitimamente eleito pelo povo de seu país, num processo onde o defenestrado não pôde se defender e, num rito surpreendentemente veloz, com sentença já definida antes do inicio do evento, nosso Supremo segue seus passos num jogo de cena parecido, já que o veredicto já havia sido determinado pela imprensa antes do inicio do processo do assim chamado "mensalão".

Quanto ao "mensalão" do PSDB e do DEM, certamente o encaminhamento será diferente, mesmo porque o Procurador Geral Roberto Gurgel já engavetou os processos. O mesmo se pode falar da CPI do Cachoeira, esta sob a responsabilidade do Congresso, mas, na eventualidade de condenação de algum figurão, bastará recorrer ao STF para que algum juiz (ou ministro?) de plantão o liberte, como fez Gilmar Mendes com o estelionatário Daniel Dantas por duas vezes seguidas, e com o maníaco sexual Roger Abdelmassih.

O STF vem agora considerar que realmente houve pagamento mensal por votos a favor do governo sem qualquer tipo de prova material, o que é uma temeridade numa corte suprema. É possível afirmar que existem provas materiais de compra de votos de deputados durante o governo FHC, na intenção de aprovar a emenda constitucional que permitiu sua reeleição. Da mesma forma, a Lista de Furnas é de conhecimento até do mundo mineral, como costuma escrever Mino Carta em seus editoriais da brilhante Carta Capital. E nada aconteceu. Nada foi investigado.

A imprensa conseguiu impregnar apenas a burguesia deste país com o sentimento anti-PT e anti-Lula.  O povo não se deixou enganar. Lula continua como uma figura muito respeitada aqui dentro e lá fora, e Dilma tem alcançado a cada pesquisa uma aprovação maior de seu governo.

É bom lembrar que o lulismo não é propriedade exclusiva do PT. Diversos outros partidos e políticos fora do PT fazem uso do sucesso do ex-presidente Lula, o aplaudem e procuram seguir seus passos.

Enquanto isso, Serra vai caindo pelas tabelas, Aécio Neves, em Minas, perdendo espaço a cada eleição, Artur Virgílio, no Amazonas, sem prestigio, o mesmo acontecendo com Tasso Jereissati no Ceará. Isso sem falar em Marconi Perillo, enroscado até o pescoço com o Carlinhos Cachoeira e o ex-senador Demóstenes Torres, de péssima lembrança. Sobra o governador do Paraná Beto Richa, que anda fazendo aliança com o PT e indicando o candidato a vice-prefeito na chapa do petista Pedro Ivo à prefeitura de uma cidade do interior do seu Estado. Está seguindo os passos de Aécio, mas ao menos fica em seu Estado e não no Rio de Janeiro veraneando a cada feriado. Do ex-presidente FHC posso dizer que lastimavelmente seu partido o abandonou há muito. É carta fora do baralho.

Hebe Camargo, hoje transformada em ícone nacional pela imprensa, em seus últimos programas na Rede TV, abordou sistematicamente, e de forma contundente, o julgamento do que a mesma mídia convencionou chamar de “mensalão“, torcendo pela condenação de todos os envolvidos.

Hebe foi usada pela imprensa, como o foram outros “ícones” de nossa TV. E, mesmo sem provas, todos serão condenados. Até José Dirceu, contra quem nada, absolutamente nada, foi encontrado que o incrimine.


* Jeferson Malaguti Soares é Secretário de Comunicação no diretório municipal do PCdoB em Ribeirão das Neves.

Comentários