Observar e agir

 
Por Cléber Sérgio de Seixas e Míriam Pacheco da Silva Seixas

Iniciamos este artigo com uma pergunta: o que deve nortear a vida do ser humano, o pragmatismo ou a utopia? O tipo de resposta a esta pergunta definirá muito acerca dos valores, dos objetivos e do caráter de quem responde. Formulada de outra forma, a pergunta poderia indagar: o homem deve viver o aqui e o agora, contentando-se com o que lhe é imposto ou deve palmilhar os caminhos da contemporaneidade com um olhar esperançoso que aponta para a posteridade?

Na busca por uma resposta, recorremos ao cineasta argentino Fernando Birri que certa vez afirmou que “a utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez. Por mais que eu caminhe, jamais  alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isto: Para que eu não deixe de caminhar”. Quão cruel é essa tal utopia! Não se deixa alcançar e tortura os corações e mentes daqueles que a perseguem com uma doença chamada esperança.

A respeito dessa expectativa de eventos futuros, asseverou Paulo Freire: “Não é, porém, a esperança um cruzar de braços e esperar. Movo-me na esperança enquanto luto e, se luto com esperança, espero”. Noutro momento, nosso maior pedagogo sentenciou: “... não há esperança na pura espera, nem tampouco se alcança o que se espera na espera pura, que vira, assim, espera vã”. Esperar, portanto, não é portar-se de forma passiva. Pelo contrário, é mover-se norteado pela esperança.

É com essa referência que esse blog tem procurado se orientar - não à toa a cor predominante deste blog é o verde, símbolo de esperança. Se é quixotesca a nossa jornada, nos consolamos com o fato de que algumas sementes lançadas pelo caminho têm germinado, crescido e frutificado. Conforme dissemos no primeiro artigo publicado, este blog sempre pretendeu ser uma semente que contribui para a mudança.

Mudar? Mudar o quê, para quê e para quem? Se tudo está posto, para que nos engajarmos numa empreitada que estaria fadada ao fracasso? Essas indagações não são parte do discurso que apregoa o pensamento único e o fim da história? É contra esse discurso conformista e fatalista, que nos postamos, certos de que sempre é possível um protagonismo por parte das classes menos favorecidas economicamente no sentido de mudar a própria sorte. Daí nossa proposta de enxergar além do lugar comum, ou seja, além do que é posto pelo pensamento dominante de cunho conservador.

Contudo, nosso engajamento toma o cuidado de não confundir o tempo pessoal com o tempo histórico. Como dissemos, apenas lançamos nossas sementes, nossas singelas contribuições para um mundo melhor, e temos esperança que as mesmas criem raízes e frutifiquem, mesmo que não vivamos o suficiente para vê-las crescer.

A tecnologia, essa faca de duplo gume, tanto possibilita a escravização quanto contribui para a libertação. Se de um lado a evolução técnica, sobretudo nos últimos cem anos, trouxe benefícios fabulosos à humanidade – com o desenvolvimento da medicina contribuindo para a longevidade dos seres humanos, com a engenharia transformando e domando a natureza em prol do homem, com a eletrônica possibilitando um incremento nas comunicações, dentre outras -, de outro serviu para aliená-lo, transformando cidadãos em consumidores, meros apêndices da máquina produtiva capitalista cujas engrenagens são azeitadas pelo consumismo.

Essa regra vale para a Internet. Sua criação visou fins militares, mas ganhou o mundo e arraigou-se no cotidiano de tal forma que hoje dela não se pode mais prescindir. Contudo, a rede internacional de computadores que possibilita inúmeros benefícios aos que dela fazem uso é a mesma que serve de palco para a difusão de mentiras, preconceitos, fofocas, boatos e informações de pouca ou nenhuma relevância. Blogs, sites e redes sociais tanto podem ser veículos catalisadores de mudanças estruturais, como ocorreu na Primavera Árabe, como podem se tornar células colaboradoras da alienação, como ocorre com aqueles que utilizam o Facebook para difundir o ódio e o preconceito racial ou para agendar o confronto entre torcidas de futebol “organizadas”.

Os que acessam nosso blog sabem que não encontrarão trivialidades ou futilidades em nossos artigos. Jamais acharão aqui um relato sobre o acidente que teve x vítimas na rodovia y ou sobre o nascimento do filho do cantor z. Não é esse nosso foco, a não ser que o acidente que teve x vítimas na rodovia y ou o nascimento do filho do cantor z tenha algum impacto sócio-político relevante. Mesmo a nossa utilização das redes sociais (Twitter e Facebook) tem como objetivo principal reverberar o que é postado aqui.

O Observadores Sociais soprou três velinhas ontem, o que é motivo de muito orgulho para seus mantenedores. Não temos o tempo que gostaríamos para dedicar a esse espaço, sobretudo, abastecendo-o com artigos autorais. Mas temos lutado para que a novidade sempre esteja aqui presente. Quando não é possível sermos autorais, reproduzimos artigos de terceiros, tomando o cuidado de citar a fonte.

Ninguém fará a revolução reclamando da vida e sentado no sofá da sala diante da TV. Conforme dissemos no primeiro post, a observação nos leva à estupefação e esta à ação. Parafraseando Paulo Freire, nós, os Observadores Sociais, não cruzamos os braços e esperamos. Este blog serviu de convite ao movimento social do qual hoje participamos ativamente. Em outras palavras, partimos do blog para a urbi.

Quanto às nossas posições políticas, reiteramos nosso apoio ao regime cubano e aos governos progressistas que pela via democrática têm chegado ao poder na América Latina. Feitas algumas ressalvas (política de juros altos, processo de desindustrialização, comportamento tíbio em relação à imprensa golpista, pouco esforço no sentido de democratizar o acesso à Internet etc), vemos na eleição de Lula e de Dilma um importante avanço da nação brasileira rumo ao desenvolvimento e na direção de maiores conquistas sociais. Temos no comunismo nossa esperança de futuro.

No mais, agradecemos aos que nos têm prestigiado e que Deus continue nos infundindo a força necessária para continuar mantendo esse blog.
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