Um sentido para o Natal


Por Cléber Sérgio de Seixas

Chegou o Natal e com ele os festejos que fazem a alegria dos comerciantes. Os grandes centros urbanos enchem-se de consumidores que se acotovelam para adquirir mercadorias que nas mãos de seus entes queridos se transformarão em presentes.

A luz de árvores nevadas decoradas com inúmeras bolas coloridas e luzes piscantes, e a presença constante do misterioso personagem de roupa vermelho-acetinada ofuscam valores bem mais nobres. Sobressai mais o bom velhinho que o aniversariante, esquecido em meio ao consumismo exacerbado.

Poucos se preocupam com o verdadeiro sentido do Natal, se é que há algum sentido numa em data em que, como é sabido tanto por clérigos quanto por alguns leigos, Jesus Cristo não nasceu. Mas, que importa, diriam os pragmáticos, o não protagonismo do Nazareno ante a prevalência de Papai Noel, se os shopping centers estão cheios, se a roda do consumo está girando e se as crianças estão satisfeitas – pelo menos por enquanto - com seus presentes? Se o Natal de Jesus é tradição, no Natal de resultados de Santa Claus o pragmatismo e a aparência sobrepujam a essência.

Não à toa, o bônus de Natal, a gratificação natalina, também conhecida como 13º Salário, tem sua segunda parcela liberada cinco dias antes dos festejos de Noel. Embevecidos com o plus natalino, não são poucos os que, em lugar de saldarem suas dívidas, endividam-se ainda mais por conta dos presentes doados. Assim, o regozijo natalino se transforma em frustração e arrependimento no primeiro mês do ano seguinte.

Vão-se os anos e com eles a lembrança dos tempos em que as famílias se ajuntavam não apenas para comer e beber, mas para lembrar daquele que se humilhara ao nascer numa manjedoura. Aliás, há muito a árvore de natal sobrepujou o presépio.

Se há alguma exortação a ser feita, que seja no tocante a tornar tal data o ápice de uma trajetória que se estende por todo o ano. Que as boas ações, a preocupação com o bem-estar do próximo, a prática da caridade, o bom convívio com os semelhantes sejam atitudes que se distribuam por todo o período que denominamos ano. O contrário faz do 25 de dezembro a mais hipócrita das datas.

Neste Natal – e o que é melhor, em todos os dias de sua vida - faça da sua luz a claridade que ilumina o desamparado. De sua fartura, colha o pão e distribua às bocas famintas. Que da sua caridade brotem a alegria da criança, o sorriso de esperança no rosto do jovem que se desviou pelos caminhos do infortúnio, a alegria nos olhos do adulto desvalido e o endireitar dos lombos daqueles cujo peso dos anos os obrigaram a olhar para baixo. Cuide, no entanto, que sua caridade não conduza a uma eterna dependência. Dê o peixe, mas também ensine o ofício de pescador e distribua caniços e anzóis sem cobrar por eles. Nessa senda, torça para que nos próximos anos não haja mãos desejosas do seu óbolo.

Semeie, regue, torça por chuva, sol, florescer e frutificar. Mas não seja apressado. Pode ser que a colheita seja algo para o porvir, para a sua descendência. Aprenda com as sequóias e jatobás a paciência dos anos e do cedro libanês aprenda e apreenda a resistência e a insistência.

Faça do seu Natal algo incomum, saltando da vala comum em que são atirados os que, nessa época, só se preocupam em comer, beber, dar e receber presentes.

Um bom Natal de Jesus são os votos do Observadores Sociais.
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