Governo Dilma: do segundo tempo à decisão nos pênaltis

Lembram-se do Rubnei?


Por Cléber Sérgio de Seixas

É sempre oportuno frisar a necessidade das manifestações públicas de movimentos sociais, de entidades de defesa da cidadania e da participação popular, em suma, do povo na rua mobilizado e mostrando que tem força para lutar por seus direitos. Urge, também, enfatizar que a direita não dorme e que, portanto, a esquerda não pode cochilar e deve estar atenta aos sutis movimentos das forças que querem deter avanços sociais que a duras penas têm sido conquistados pelo povo brasileiro nos últimos anos.

De uns meses pra cá, a grande mídia tem dado eco a movimentos que supostamente ganham as ruas pelo combate à corrupção. Do Sete de Setembro até hoje, várias manifestações foram superdimensionadas pelas lentes da grande imprensa. A grande angular da imprensa conservadora - que há muito se transformou num partido que faz as vezes dos partidos de direita tradicionais, e que por isso é chamada pelo jornalista Paulo Henrique Amorim de Partido da Imprensa Golpista (PIG) – ajusta seu foco de forma a transformar meia dúzia de gatos pingados, massa amorfa e de objetivos esparsos e heterogêneos, em uma enorme massa homogênea, coesa e de norte definido, cujas manifestações seriam o ápice de uma indignação coletiva com a corrupção que grassaria nos três poderes da República.

Sabe-se, no entanto, que a maioria dos que têm saído às ruas, indignados com a corrupção, é formada de inocentes úteis arregimentados por indivíduos que não confessam sua predileção partidária nem tampouco sua indignação seletiva. Nada contra aqueles que se mobilizam contra a corrupção; tudo contra aqueles que são seletivos em sua indignação e que focam suas reclamações sobre apenas um partido, como se a corrupção fosse exclusividade de uma agremiação política no amplo espectro político-eleitoral brasileiro.

O dedo em riste do PIG só aponta para o governo, para o PT e para partidos aliados. Desde que o ex-operário Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o poder, factóides em cima de factóides têm sido produzidos de forma a enfraquecer o governo, tirar-lhe a legitimidade e fortalecer uma oposição vazia de idéias e propostas para o país. Nessa seletividade acusatória, escândalos envolvendo prefeituras e Estados cujo executivo seja encabeçado por partidos de oposição ao governo não merecem destaque nos jornais, não estampam as capas das revistas semanais de maior circulação e não são postos em relevo no Jornal Nacional. Quando muito, as falcatruas de partidos como o PSDB e DEM só merecem uma pequena nota nos jornais e revistas, ou uma tímida matéria nos telejornais. A parcialidade da cobertura midiática transforma o PT num bastião da corrupção, enquanto partidos com o PSDB e congêneres se convertem nos paladinos da probidade e moralidade.

O grande partido da imprensa se cobre de uma aura de suposta neutralidade para fazer as vezes de um partido de oposição. Seu expediente desde 2003 tem consistido numa série de ataques pontuais ao governo, onde se misturam verdades, meias verdades e mentiras. Apesar dos ataques, o governo do presidente operário e o atual governo de Dilma Rousseff têm alcançado altos índices de aprovação. Um dos maiores reveses da imprensa golpista nos últimos tempos foi a derrota de seu candidato nas eleições de 2010 – uma campanha marcada pelo baixo nível a que foi conduzida pelos apoiadores do candidato José Serra e pautada por questões menores como o aborto. Derrotados, mídia e a classe conservadora que ela representa tentam agora, num improvável mas não impossível terceiro turno, vencer a eleição.

Dilma errou ao flertar com a imprensa indo ao aniversário de noventa anos da Folha de São Paulo, assim como tem errado ao não dinamizar o processo de democratização do acesso à Internet através de um plano nacional para ampliação da banda-larga, condição sine qua non para o fomento de uma imprensa alternativa na Web.

A bandeira branca do governo não amainou a sanha golpista de nossa imprensa, cujo objetivo, ao que tudo indica, é abater, um a um, os integrantes do primeiro escalão do governo federal. Caem ministros após ministros e a bola da vez é Orlando Silva, da pasta dos esportes.

Denúncias da revista Veja não apresentam nenhuma prova concreta contra o ministro e podem não passar de mais um dos muitos factóides que a revista vem produzindo para desgastar o governo. Ainda é cedo para apontar o que pode estar recôndito sob as acusações do semanário, mas pode-se supor que as mesmas ocultem interesses da FIFA em relação às copas do Mundo e das Confederações.

Não é a primeira vez que a imprensa conservadora utiliza acusações levianas de indivíduos de caráter duvidoso com o intuito de derrubar ministros do governo. No ano passado, as acusações do “empresário” Rubnei Quícoli foram elevadas à condição de provas contra a então ministra da Casa Civil Erenice Guerra. Rubnei, que chegou a cumprir dez meses de prisão por receptação de mercadoria roubada, recentemente, desmentiu suas acusações para não ser processado por calúnia. Como era de se esperar, a grande imprensa não reservou o mesmo espaço que reservara às acusações de Quícoli no ano passado para informar que o empresário se retratou. Muito tarde para Erenice, que perdeu o cargo.

No lamaçal em que chafurda nossa imprensa, o princípio de presunção da inocência é totalmente desprezado. Até o momento, o policial militar João Dias Ferreira não apresentou nenhuma prova de suas acusações. O ministro Orlando Silva está sendo condenado à execração pública sem que nada de concreto seja apresentado, o que configura uma verdadeira inversão do princípio in dubio pro reo.

O lance do Ministério dos Esportes é apenas um dentre os vários que podem se desenrolar até o fim do jogo. Ninguém se engane: o objetivo do partido da imprensa golpista é retirar Dilma do Planalto, com ou sem provas, para que uma era de progressismo ceda lugar ao retrocesso neoliberal. Denúncias e denúncias de corrupção no primeiro escalão do governo visam criar um clima de comoção social que pode ser usado como pano de fundo para um golpe branco.

Se Dilma não acordar para o fato de que a melhor defesa contra os achaques da imprensa golpista é o ataque, ficará na retranca até que não haja mais zagueiros para defendê-la. Aí terá sido tarde demais, e a eleição que foi ganha nas urnas no ano passado, num acalorado segundo tempo, poderá ser decidida na loteria dos pênaltis.
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