Anders Breivik e a escalada fascista


Por Cléber Sérgio de Seixas

Matéria da Agência Brasil informa que o terrorista norueguês responsável pela morte de 77 pessoas no dia 22 de julho obteve ajuda do exterior. Segundo a reportagem, o advogado do terrorista afirmou que seu cliente foi ajudado por pessoas de fora do país, das quais obteve os materiais para seus atentados. Ainda é cedo para afirmar que o extremista faz parte de alguma organização radical de direita, mas já é seguro dizer que ele não agiu sozinho.

Exemplos como o de Anders Breivik não são casos isolados. Em todo o mundo ocidental há milhares de indivíduos ligados a grupos fascistas que às vezes externalizam seu preconceito em forma de agressões e atentados. Os alvos preferenciais são, basicamente, os mesmos de 70 anos atrás: imigrantes, negros, mestiços, judeus e homossexuais.

Nos anos 30, muitos empresários alemães financiaram o nazismo para impedir o avanço do comunismo no país. A história da colaboração de empresários alemães com o genocídio de judeus, eslavos, ciganos, negros, homossexuais e outros é pouco explorada por historiadores, cineastas e escritores, mas hoje é notório que grupos como Bayer, Krupp e Siemens colaboraram com o regime nazista. Apesar de tal colaboração, muitas dessas empresas ainda hoje gozam de boa reputação junto ao mercado e opinião pública.

Menos explorada ainda é a participação de empresas não alemãs no Holocausto. A empresa IBM, por exemplo, auxiliou o III Reich fornecendo aos nazistas o know-how para organizar a logística da matança. Não fossem as máquinas perfuradoras de cartão da IBM, espécie de avós dos computadores modernos, dificilmente os fascistas comandados pelo Führer teriam conseguido, com tamanha precisão, localizar, catalogar, separar, alojar e por fim, exterminar, de forma sistemática, contingente tão grande de seres humanos. Esta história é contada de forma brilhante por Edwin Black no livro A IBM e o Holocausto.

Quando indivíduos como Anders Breivik são pegos, a grande mídia sempre se apressa em dizer que são fanáticos agindo isoladamente, pessoas mentalmente desequilibradas ou terroristas de orientação islâmica. Foi assim com o norueguês e, cá entre nós, com o atirador que matou 12 crianças numa escola da Zona Oeste do Rio no dia 07 de abril passado. Os primeiros veículos a cobrir o massacre de Realengo apontavam Wellington Menezes como ligado ao islamismo, o mesmo julgamento dispensado a Breivik a princípio. Em nenhum dos dois episódios o islamismo era o pano de fundo. No caso do norueguês, no entanto, há um componente racista e xenófobo a embasar suas ações.

Não é possivel dissociar as ações de Breivik do processo social, político e econômico por que passa a Europa. A atual crise econõmica tem provocado desemprego e agravado a questão social de vários países daquele continente. Na Europa, desde primórdios do século XX, o recurso ao fascismo surge sempre que crises ameaçam o arcabouço do capitalismo. Quando a estrutura capitalista começa a apresentar fissuras, ameaçando suas superestruturas, os burgueses recorrem ao fascismo, preferindo entregar os anéis a perder os dedos. “Quando a economia capitalista entre em colapso e a classe trabalhadora marcha para o poder, então os capitalistas se voltam para o fascismo como a saída”, asseverou o escritor marxista norte-americano Leo Huberman. Se fosse possível definir o fascismo em poucas palavras, poder-se-ia dizer que se trata de um capitalismo sem a máscara da democracia.

Um dos primeiros sintomas do fascismo é a xenofobia. Esta, por sua vez, é uma reação à presença do estrangeiro, que passa a ser visto pelos membros de um Estado ou nação como uma potencial ameaça a seus interesses, malgrado o fato de os imigrantes contribuirem para o desenvolvimento e crescimento do país que os hospeda.

O fascismo tenta dar respostas fáceis a assuntos extremamente complexos, sobre os quais seriam necessárias análises profundas. Assim, em lugar de debruçar-se sobre as raízes sociais e econômicas do desemprego, os fascistas preferem atribuir as causas do mesmo aos imigrantes ou às minorias étnicas. Foi assim que os nazistas iniciaram a perseguição aos judeus.

No Brasil os fascistas estavam no ostracismo até que a campanha eleitoral de José Serra os tirou das sombras. Durante a campanha do candidato tucano, o preconceito regional, o fundamentalismo religioso e o moralismo de viés fascista vieram à tona com intensidade surpreendente. Um dos momentos marcantes de tal processo foi quando, após o anúncio da vitória da candidata Dilma Rousseff, a estudante Mayara Petruso publicou no Twitter uma mensagem de discriminação e preconceito para com os nordestinos (“Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”).

Durante um seminário do PCdoB em Belo Horizonte, o sociólogo Rudá Ricci afirmou que um partido fascista está em vias de formação no Brasil. Se forem consideradas as manifestações preconceituosas que circulam nas redes sociais, os atentados a homossexuais que povoam os noticiários e as ações de grupos neonazistas, é preocupante que a formação de um partido de tal tipo esteja em andamento, haja vista que muitos jovens podem ser facilmente seduzidos pelo discurso extremista, preconceituoso e fundamentalista característico da extrema-direita. A propósito, atualmente não são poucos os jovens que, tal como Anders Breivik, consideram nossa mistura de raças uma das causas de nossos problemas sociais.

Breivik é apenas a parte visível de um iceberg em cuja base estão políticos, empresários, religiosos etc. Se o Ocidente, incluindo o Brasil, não estiver atento aos passos da extrema-direita, o ovo da serpente será chocado sem que se perceba. Quando este eclodir, terá sido tarde demais. As esquerdas, sobretudo, devem estar vigilantes.
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