Rumo a um novo choque de gestão

Veja e suas paranóias


Por Cléber Sérgio de Seixas

Quando se aventou a hipótese de Lula tentar alterar a constituição de forma que lhe fosse autorizado concorrer a um terceiro mandato, possibilidade sempre refutada pelo mesmo, muitos o compararam a Hugo Chávez e Evo Morales. Mas o barbudo, picado que não fora pela mosca azul, não cedeu à tentação e contrariou as expectativas de seus adversários, diferente do que fez Fernando Henrique Cardoso quando comprou o Congresso para aprovar a reeleição. Mesmo se tratando de uma hipótese completamente infundada, a grande mídia deu tratos à bola para conceder-lhe ares de verdade. Não faltaram capas de revista e editoriais aludindo à suposta intenção de Lula de perenizar sua permanência no Planalto.

Descartada a possibilidade de Lula se manter no poder por mais quatro anos, o foco das suposições midiáticas mudou. Nas últimas eleições muitos foram os que apregoaram que seria benéfica para a democracia brasileira a alternância no poder para promover o equilíbrio entre forças divergentes e evitar o risco do pensamento único. Especulavam que Dilma, se eleita, libertaria as feras autoritárias, os “radicais” do PT, que o presidente Lula teria conseguido segurar por oito anos, e que tal soltura resultaria num mergulho no totalitarismo. Em outras palavras, queriam dizer que José Serra seria mais capaz de promover o equilíbrio de poderes tão caro à democracia.

Ao adotar tal discurso, os partidários e os simpatizantes de Serra supostamente estavam se imbuindo dos mais democráticos sentimentos. No entanto, as loas à alternância escondiam uma hipocrisia sem tamanho, já que o discurso que valia para PT em relação ao Brasil não vale para o PSDB em relação a Minas Gerais e São Paulo. Para ilustrar tal assertiva, tomemos, primeiramente, o caso paulista. O PSDB está à frente do governo do mais rico Estado do Brasil há 16 anos. Com a vitória de Geraldo Alckmin, os tucanos podem completar 20 anos de governo. Dito isto, é bom lembrar que nenhum democrata de última hora bradou para defender a salubridade da alternância no poder entre forças divergentes.

Outro exemplo emblemático é o de Minas Gerais. Aécio Neves ocupou por oito anos o Palácio da Liberdade e, após eleger-se senador e levar consigo o inexpressivo Itamar Franco, emplacou a eleição de seu sucessor. Até o presente momento, não vi nenhum correligionário indignar-se com a eleição de Antônio Anastásia. Com isso, é razoável presumir que o que os supostos democratas temem no que tange ao Brasil, pode se tornar realidade em Minas Gerais.

A ALMG está para dar um “cheque em branco” para Anastásia. Foi aprovado no dia 07 último, em 1º turno, o Projeto de Resolução 4.999/10, que autoriza o futuro governador a fazer reformas na estrutura administrativa do Estado por intermédio de leis delegadas. Através de tais leis, o chefe do executivo estadual poderá criar, incorporar, transferir, extinguir e alterar órgãos públicos, ou unidades da administração direta, além de poder modificar a estrutura orgânica das entidades da administração indireta.

As leis delegadas de Anastásia visam dar seqüência ao assim chamado choque de gestão de Aécio Neves - sinônimo de precarização das condições de trabalho para os servidores públicos do Estado. Aliás, Aécio é, até agora, o governador que mais emitiu leis delegadas em Minas, tendo editado 130 leis com as duas delegações que lhe foram conferidas pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

A oposição tem pouca expressão na ALMG, contando com pouco mais de 20 deputados estaduais num universo de 77. Assim sendo, dificilmente terá condições de barrar a aprovação do Projeto de Resolução em segundo turno.

Portanto, resta aguardar por um novo choque de gestão que, espera-se, não esteja mais para “choque de indigestão”.


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