As capas e a cara de Veja

Por Cléber Sérgio de Seixas

À reboque do que tem sido promovido pela grande mídia (Organizações Globo, Editora Abril, Estadão, Folha de São Paulo e congêneres) para desconstruir a imagem de Dilma Rousseff e, consequentemente, impedir que a mesma chegue à presidência e dê continuidade ao legado de Lula, considero oportuno evocar George Santayana e sua afirmação de que "aqueles que não podem lembrar o passado, estão condenados a repeti-lo".

Tendo como base a máxima do pensador hispano-americano, gostaria de refrescar a memória dos leitores deste blog – e ao mesmo tempo alertá-los quanto ao poder de manipulação dos grandes conglomerados midiáticos - utilizando como ferramenta algumas capas da famigerada revista Veja (a “Última Flor do Fascio” segundo Paulo Henrique Amorim) para lembrar que a supracitada revista sempre se colocou à extrema direita do espectro político e, particularmente, sempre em oposição a Luís Inácio Lula da Silva. As capas que passo a mostrar deixam claro o antagonismo da revista em relação ao presidente da República mais popular da História brasileira, bem como à sua possível sucessora. Em suma, as capas revelam a cara de Veja. Apesar de uma capa falar mais do que mil palavras, vou acrescentar alguns comentários para situar os leitores.


13 de dezembro de 1989 - na capa, chocavam-se frontalmente as propostas de Lula, de vieses sociais, com as idéias de Collor, perfiladas com um neoliberalismo que acabava de desembarcar nas terras latino-americanas via Consenso de Washington. Collor, candidato das elites e cevado pela imprensa, seria o vencedor do pleito de 1989.


22 de maio de 2002 - Lula e mercado seriam duas coisas incompatíveis segundo Veja. Conforme a capa, o risco Brasil aumentava na mesma proporção da escalada do petista nas pesquisas eleitorais.


23 de outubro de 2002 - a velha tática do medo. O cão Cérbero, guardião das portas do inferno segundo a mitologia grega, tem como cabeças as de Marx, Trotsky e Lênin, expoentes do pensamento marxista. A mensagem subliminar é que uma vitória de Lula, e por extensão do PT, levaria o país às portas do inferno por conta de medidas radicais defendidas por alas do partido. É o mesmo discurso da imprensa hoje com relação a uma possível vitória de Dilma Rousseff.


27 de setembro de 2006 - o discurso dos golpistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista) era o mantra "Lula sabia", ou seja, seria impossível que o presidente não soubesse do esquema que ficou conhecido como "mensalão".


16 de abril de 2008 - dessa vez o fantasma era a busca pelo terceiro mandato, à semelhança do que promoviam Chávez na Venezuela e Morales na Bolívia. E tudo não passou realmente de um fantasma, visto que o presidente, reiteradas vezes, deixou claro que não considerava democrático um terceiro mandato. Detalhe: quem criou a reeleição não foi Lula, mas seu antecessor Fernando Henrique Cardoso.

24 de fevereiro de 2010 - Dilma é estampada em preto em branco, como se sua candidatura fosse algo sem cor, sem graça. Ao mesmo tempo a cor vermelha do PT serve de moldura e a estrela do partido é presença marcante, como se a presidenciável não passasse de um fantoche nas mãos de "radicais" do PT, que mais uma vez são evocados. Por outro lado, na parte superior da capa, há uma referência a um artigo de José Serra, o principal adversário de Dilma.


10 de julho de 2010 - da mesma forma que em 2002, a ameaça do radicalismo está de volta, bem como a alusão a monstros mitológicos. Dessa vez a fera petista é comparada à Hidra de Lerna, monstro de sete cabeças que, quando cortadas, davam lugar a outras. Só faltou acrescentar à capa a figura de José Serra no papel de Hércules. O recado é: "se Dilma ganhar o país vai se transformar numa 'república sindicalista' e numa União Soviética".

A iminente vitória de Dilma, e sua permanência por pelo menos 4 anos na presidência, ainda renderá muitas outras capas, e este blog estará pronto para mostrá-las e comentá-las.

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