REPETINDO O MANTRA MIDIÁTICO


Por Cléber Sérgio de Seixas

A seleção perdeu, volta pra casa e aguarda 2014. Fazer o quê? Venceu o melhor. O gol do empate holandês desconcertou o selecionado brasileiro completamente, e a expulsão de Felipe Melo jogou a última pá de cal sobre o sonho do hexa na África do Sul.

Assisti ontem ao jogo na Sport TV e fiz questão de, após o término, mudar para a Globo para ouvir os comentários de Galvão Bueno – o torcedor travestido de comentarista. Ouvi dele o que já era previsto: um discurso que repetia o mantra da falta de peças de reposição no banco e do desequilíbrio emocional irradiado do técnico para os jogadores em campo. Já sabemos que no banco a mídia queria ver Neimar, Ganso e o improvável Ronaldinho Gaúcho. Quanto ao desequilíbrio emocional do técnico da seleção brasileira, ele já era apontado pelos psicólogos a soldo da imprensa logo após o desentendimento de Dunga com um repórter global.

Doravante, o massivo bombardeio de críticas à derrota apagará da memória do torcedor todos os feitos desde que o técnico com apelido de personagem de história infantil assumiu o comando do selecionado brasileiro. O bom futebol apresentado no penúltimo jogo será esquecido, bem como o domínio da seleção no primeiro tempo do último. O discurso do “eu já sabia” ou “era previsível” enterrará todas as glórias da seleção brasileira até então.

A imprensa faz o seu papel e defende seus interesses comerciais que se sobrepõem a quaisquer outros. O triste é ver os torcedores repetindo, com todas as letras, o mantra midiático, feito bonecos de ventríloquo. Dunga será fritado e seu destino será o ostracismo (leiam também "Seleção Brasileira: de João Sem-Medo ao Anão Dunga"). A assim chamada “era Dunga” já é considerada página virada no almanaque futebolístico nacional e o que virá pela frente até 2014 é pura especulação.

O concreto é que na pátria de chuteiras temos quase 180 milhões de técnicos que não aceitam facilmente derrotas e sempre sairão em busca de um bode expiatório para as mesmas.

De minha parte, parabenizo o técnico brasileiro e seu time pelo que apresentaram até aqui, sobretudo pelo primeiro ter “peitado” os interesses dos grandes oligopólios midiáticos.

Comentários

Marcio Domingos da Silva Reis disse…
Torcida e imprensa argentina 10 X 0 Torcida e imprensa brasileira

Muito digna a calorosa recepção dos argentinos e imprensa do país aos jogadores e ao técnico Maradona. Diferentemente da maioria dos brasileiros e da raiz de amargura reacionária que caracteriza grande parte da imprensa brasileira, os argentinos demonstraram respeito, carinho, apreço e solidariedade ao trabalho de seus heróis do futebol, apesar do fracasso não previsto e da amarga derrota imposta pelos alemães ao brio dos hermanos. As imagens da chegada de Messi e Cia retratam uma imensa família recebendo seus meninos que eles tanto amam, de coração aberto, sem reclamações, pilhérias, gozações, sarcasmo, humor cínico e falta de respeito. Confesso que senti um pouco de inveja, e por um momento desejei ter nascido argentino, devido à falta deste calor humano que os brasileiros deveriam tributar aos meninos da pátria amada que não caíram de quatro, que falharam em dois lances de duas bolas paradas, que ficaram com um a menos, que não se acovardaram, que partiram para cima e quase conseguiram a prorrogação. Onde está escrito que um time de futebol tem a obrigação de ser 100% Perfeito? Qual o preceito determinante a exigir que um time de futebol seja 100% Imbatível? Que regulamentação legal condiciona um time de futebol a não perder jamais, e ganhar tudo de todos? Ora, se assim fosse, esse time Top 100 não poderia participar de nenhuma competição, uma vez que todos saberiam antecipadamente qual seria o resultado. Deste modo, o futebol eletrizante e carregado de emoção, de lances magistrais e resultados inesperados, perderia o sabor do seu encantamento sem igual. A adrenalina que flui nos estádios deixaria de acelerar os corações das multidões e dos 22 oponentes que lutam pela posse da bola. O vôo espetacular, fulminante e gracioso da gorduchinha, pelota, redonda ou jabulani se assim preferir, impulsionada pelo chute indefensável ou cabeçada certeira, em direção ao alvo que transpõe os limites da meta adversária desfraldando a rede num balanço mágico que embala alucinadamente a explosão de milhões de corações, não mais faria ecoar sobre a arena verde o rugido orgástico e incontrolável da emoção do gol... Hahahahahahaha!!! Hahahahahahahaha!!! A frustração do quase gol Uhuhuhuhuhuhhuhuhuhuhu, também não se faria mais ouvir.
O mutismo incrédulo, as expressões de horror e lágrimas de outros milhões de corações pelo impacto do não esperado, também estariam com seus dias contados.
O imprevisível é a arte maior do futebol. Sem o imprevisível o futebol perde sua razão de ser.
Caríssimos Dunga, Kaká e Cia. Para mim, vocês e outros que virão depois, serão sempre Bem Vindos, quaisquer que sejam as circunstancias. Não levem em conta a simploriedade dos que ainda não compreendem o significado e a dimensão de ter nas veias o pulsar do sangue verde, amarelo, azul e branco de um coração 100% Brasileiro. Isto é o que importa. O resto é conversa pra boi dormir.
Um grande e fraterno abraço.

madsire1@gmail.com