Cuba: de Valladares a Yoani

Ex prisioneiros políticos concedem entrevista em Madri. Foto: Reuters.

Por Cléber Sérgio de Seixas

Após um acordo intermediado pela Igreja Católica e pela diplomacia espanhola, Cuba decidiu libertar, de forma gradual, 52 prisioneiros políticos. Tal libertação, que está sendo anunciada pela mídia com um sinal do enfraquecimento do regime cubano, trouxe novamente à baila a questão dos encarcerados por questões políticas naquele país. No entanto, por detrás das críticas da comunidade e imprensa internacionais se escondem outros interesses que não combinam com a temática dos direitos humanos.

Como explicar que a imprensa de uma forma quase homogênea condene o regime cubano qualificando-o como violador dos direitos humanos? Que interesses poderiam justificar um embargo econômico de 48 anos contra um país que não dispõe de grandes riquezas naturais e, do ponto de vista bélico, não representa ameaça aos Estados Unidos?

As respostas, obrigatoriamente, encontrarão seus antecedentes nos êxitos sociais alcançados depois que os guerrilheiros barbudos desceram a Sierra Maestra e tomaram o poder em Cuba – retirando do governo um ditador títere dos interesses dos EUA na ilha -, pela crise dos mísseis em 1962, pela conversão ao socialismo e, sobretudo, pelo que a Revolução Cubana legou à América Latina.

No Combinado do Leste, grande presídio localizado na periferia de Havana, se encontram presos cujo aprisionamento a maior parte da opinião pública mundial denuncia como um símbolo da falta de liberdade do regime cubano. Embora não se torturem prisioneiros políticos em Cuba, ao contrário do que ocorre em Guantánamo, a grande imprensa mundial insiste na tese de violação dos diretos humanos no que tange aos encarcerados.

É importante salientar que os Estados Unidos, auto proclamados lutadores contra o terrorismo e bastião da democracia, são os mesmos que promovem e apóiam atentados contra Cuba desde os tempos em que Fidel, Che e companhia libertaram-na do jugo de Fulgêncio Batista e, por extensão, da subserviência aos ditames norte-americanos.

Nos tempos atuais, os prisioneiros libertos protagonizam o papel de denunciantes das supostas arbitrariedades cometidas pelo governo cubano e anunciam uma cruzada em prol de mudanças democráticas. Porém, antes de elegê-los paladinos da liberdade, é necessário trazer à luz os motivos pelos quais foram aprisionados.

Desde os tempos de Ronald Reagan a suposta falta de liberdade na ilha serve de inspiração para propagandas anti-revolucionárias e para o surgimento de embustes como o da blogueira Yoani Sánchez (clique aqui para ler o elucidante texto de Frei Betto sobre Yoani).

Um exemplo marcante foi o de Armando Valladares, um suposto poeta inválido que ficou encarcerado em Cuba durante 20 anos por terrorismo. Valladares havia sido policial nos tempos da ditadura Batista e em 13 de dezembro de 1960 foi detido sob a acusação de ser um dos membros de uma organização terrorista apoiada pela CIA que atentava contra as mudanças políticas que ocorriam naqueles primeiros anos da revolução. Um dos expedientes do grupo terrorista consistia em ataques com explosivos. Na prisão, Valladares fingiu ser um paraplégico e conseguiu, assim, comover a comunidade internacional. Com a pressão do intelectual Régis Debray – que havia colaborado com Che na Bolívia – e pela intervenção de François Mitterrand, foi possível a libertação da Valladares. Contudo, as autoridades cubanas estabeleceram como condição para sua libertação que ele deixasse a prisão caminhando com as próprias pernas. Uma vez liberto, e uma vez descoberta a fraude de seus talentos literários e de sua invalidez, mudou-se para os EUA, onde foi contemplado com a cidadania estadunidense e nomeado representante do governo de Washington na Comissão dos Direitos Humanos da ONU. Neste cargo tentou várias vezes, sem sucesso, fazer com que Cuba fosse condenada por violação dos direitos humanos. Diante de seu insucesso, nos anos 90 o governo Clinton resolveu substituí-lo. Mais recentemente, em uma carta de renúncia endereçada à HRF (Human Rights Foundation), onde ocupava o cargo de chairman, manifestou-se a favor do golpe de Estado que apeou do governo o presidente de Honduras Manoel Zelaya. Resta saber se o mesmo empenho em prol dos direitos humanos que ele supostamente defende se manifestará em relação às barbaridades que estão sendo perpetradas contra o povo hondurenho pelo governo de Porfírio Lobo.

Tanto Valladares quanto Yoani Sánchez são instrumentos da propaganda que visa desestabilizar o regime cubano e tudo o que ele representou e representa para a América Latina. Escondidas sob as denúncias de maus tratos a prisioneiros e de violações dos direitos humanos estão os interesses imperialistas estadunidenses cuja capilaridade se estende à quase totalidade da imprensa mundial. Assim sendo, é necessário que os leitores e telespectadores não se deixem enganar pelos noticiários e pela superficialidade das abordagens jornalísticas da grande mídia.


Abaixo um vídeo que mostra o desmascaramento de Armando Valladares.

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