SE O GOLPE FOSSE HOJE


Por Eduardo Guimarães


Essas discussões na mídia em torno do recém-divulgado texto do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH) me levaram a uma divagação que me adveio das idéias totalitárias que as mesmas forças políticas que elucubraram o golpe militar de 1964 – e que permanecem unidas e ensurdecedoramente loquazes – continuam a defender.


Imaginei como seria se um golpe de Estado como o que se abateu sobre o Brasil há quase meio século ocorresse nos dias atuais. Digamos assim, que os militares, um pouco menos contidos do que estão, decidissem que o “apedeuta” tinha ido longe demais e que teria chegado a hora de pôr fim ao seu governo.


A esse respeito, note-se o que se tem lido e ouvido na grande imprensa sobre o golpe em Honduras. E basta ler qualquer blog político para encontrar gente pregando ruptura institucional contra Lula. São doidos que não têm respaldo para concretizar seus devaneios? Não sei, não tenho certeza.


Bem, se o golpe fosse hoje, os golpistas militares ignorariam a decisão dos brasileiros de pôr e manter Lula no poder. Com ou sem boa avaliação de Lula, o Planalto seria invadido, o presidente preso e deportado e as ruas seriam tomadas pelos militares, que atacariam qualquer um que se manifestasse contrariamente à usurpação do poder por gente sem votos.


Movimentos sociais, partidos e sindicatos saem às ruas para protestar. UNE, MST, CUT, PT, PC do B, PSOL (etc.) e até o débil Movimento dos Sem Mídia (que, para quem não sabe, é a ONG que fundei e presido), ao qual, tenho certeza, muitos de vocês, indignados com a ruptura institucional, unir-se-iam.


Em dado momento, em uma reunião do MSM, o local onde nos reuniríamos para pensar em saídas para a ruptura vigente seria cercado por soldados. Seriamos espancados e presos. Como ainda não há uma tentativa de levante, porém, somos liberados depois de ter sido impedidos de nos reunir e de “tramar” contra o regime.


O processo prossegue violando garantias constitucionais. Este blog é fechado e sou processado com base em uma recém-criada Lei de Segurança Nacional. Levam-me para a rua Tutóia, aqui perto de minha casa, e me enchem de porrada para que eu diga o que pretendo com o que escrevo aqui, quantos estão comigo, quem me “financia” etc.


Não sobrevivo. Minha mulher e minha filha doente, que hoje dependem de mim, ficam desamparadas, dependendo, agora, de meus filhos crescidos e de outros parentes. Meu filho ou uma de minhas filhas, indignado (a), assume a presidência do MSM, que se junta a uma célula de resistência que está sendo criada por vários outros movimentos sociais, partidos e sindicatos impedidos pelos militares de se articularem contra o regime.


As prisões políticas continuam. Mais gente é ferida e até morta por discordar da usurpação do voto popular, do amordaçamento do país, do esmagamento das instituições (Legislativo, Judiciário) e do impedimento ao direito de reunião. Não é permitido falar, escrever ou se reunir se o objetivo for criticar o regime.


A grande imprensa, a Igreja Católica e as organizações patronais como a de latifundiários ou as de capitães da indústria se unem contra a resistência ao golpe. Grandes empresários e banqueiros começam a se envolver com o regime para conseguirem vantagens. Alguns financiam esse regime em troca de satisfação de perversões morais, pois apreciam assistir a torturas e a estupros.


Os movimentos sociais, os partidos (agora ilegais), os sindicatos, os intelectuais se unem e decidem reagir. Mas como fazê-lo sem dinheiro, sem armas, sem quaisquer recursos? Os militares bloquearam qualquer meio de os descontentes se reunirem e reagirem institucionalmente. O Congresso foi fechado e o Judiciário colocado de joelhos.


Contra a violência, decide-se pela violência. É preciso pegar em armas para resistir à ditadura, que vai esmagando a cidadania a cada passo que dá. Pessoas que jamais pegaram em uma arma, pois, começam a ser treinadas pelos poucos que têm algum conhecimento de combate. E para financiar a resistência, só roubando de empresários que apóiam o regime a troco de vantagens de todo tipo.


Há uma guerra civil em curso, agora. Membros da resistência são presos juntamente a cidadãos comuns que não se envolveram em nada. O regime suspeita de todos.


Cidadãos são mortos nos porões do regime, muitos depois de sofrerem sevícias inimagináveis para “confessarem”. Famílias inteiras são presas e torturadas. Mulheres são estupradas diante de maridos, pais ou filhos para forçá-los a delatarem companheiros. Muitos, repito, não sabem de nada. Morrem do mesmo jeito.


Pergunto a vocês, apenas, se as ações dos dois lados se equivaleriam.


Fonte: Cidadania.com

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