OS OLHOS DO GRANDE IRMÃO II



Por Cléber Sérgio de Seixas


Todos reconhecem que a Internet é um território sem lei, terreno pantanoso onde se deve pisar com cuidado para não chafurdar; onde cada um veicula a informação que quiser ou fala o que bem entender em blogs, chats, redes sociais tais como Facebook, Orkut ou congêneres – ocasionalmente, sem nenhuma responsabilidade ou possibilidade de imputação.

No anárquico caldo de cultura ou anticultura que flui da rede mundial de computadores há, no entanto, a vantagem de o cidadão já incluído no mundo digital ter voz e vez, expondo ideias e intercambiando-as com seus afins. Na “blogosfera”, por exemplo, existe mais vida inteligente do que se imagina. 

Este artigo não se ocupara de citar as vantagens da rede mundial de computadores (redes de relacionamento social, comércio eletrônico, e-mails, blogs, Internet banking, etc), pois são inquestionáveis e irreversíveis. A questão à qual se aterá é aquela relativa à liberdade de manifestação que cada cidadão pode dispor na utilização da rede.

Quando falham historiadores, sociólogos, futurólogos e pseudo-profetas, entram em cena artistas e escritores. Muito do que vivemos hoje poderia ser considerado como cumprimento de algumas profecias orwellianas. George Orwell, em seu livro 1984, narra a experiência de cidadãos numa sociedade monitorada constantemente pelos onipresentes olhos do Grande Irmão, na qual prevaleciam a vigilância, a desconfiança e a censura. Contudo não precisamos de Orwell para especular sobre o futuro, pois os fatos estão aí para que nós os observemos e tiremos conclusões. O Big Brother é aqui e agora.

Exemplo disso é um projeto de lei que foi retirado recentemente da pauta de votação do senado. Supostamente visando combater os crimes de informática, o projeto, cujo relator é o senador Eduardo Azeredo, prevê, por exemplo, a autenticação dos internautas em operações como envio de e-mails, participação em blogs, downloads de músicas e filmes, e conversas em chats. Tal autenticação ficaria a cargo dos provedores e exigiria do usuário dados como RG, endereço, número do telefone e CPF. Isto, no mínimo, seria um freio à celeridade da rede.

O tio Sam já tem o seu Big Brother. Trata-se do programa Echelon, um conjunto de tecnologias que visa à vigilância em todas as mídias possíveis – Internet, telefonia, radiofreqüência etc. Além disto, é sintomático que os Estados Unidos ainda detenham o controle dos DNS’s da Internet. Informação é poder!

É difícil saber o real objetivo de alguns políticos quando apelam para medidas de vigilância dos cidadãos. O fato é que a Internet é hoje um grande canal de informações, onde as opiniões fluem copiosamente e com isenção suficiente para ser uma excelente alternativa à mídia comercial.

Os espíritos mais inquiridores certamente perguntariam: seria interessante aos atuais oráculos midiáticos que a assim chamada inclusão digital continuasse livremente em curso? Por que não lhe impor obstáculos? Se o quarto poder fiscaliza os demais poderes, quem vai fiscalizá-lo? Ou o quarto poder seria tão confiável a ponto de não ser passível de questionamentos? Estaria surgindo aí o quinto poder? Informação é poder!

Se há pedofilia, difusão de vírus ou roubo de dados confidenciais na rede, que se busquem meios eficientes de combater esses crimes sem, no entanto, cercear a liberdade do cidadão que, sujeito aos interesses de uma grande mídia que só veicula o que se coaduna com seus interesses, só tem em mãos um teclado e um mouse para trazer à luz suas opiniões e sua indignação e se fazer ouvir.

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