VEJAM O QUE FIZERAM


Por Eduardo Guimarães


Este texto, dirijo àqueles que, à diferença de pessoas como eu, semearam o que agora toda esta sociedade colhe, mas que, hipócritas, tentam fazer crer que o que acontece hoje da Rocinha a Heliópolis, da Barra da Tijuca aos Jardins, começou agora.

Eu vos acuso de não terem sensibilidade social, de quererem se locupletar à custa da miséria de legiões de brasileiros que mal e porcamente sobrevivem nos guetos onde vós os segregastes, à custa dos que não têm escolas para que seus filhos tenham uma chance na vida, porque, quando governantes fazem boas escolas para o povo, dizeis que são “caras”.

Eu vos acuso de exigirem dos governantes que, em vez de a prisões que recuperem essa meninada perdida, mandem os infratores, ainda imberbes, para masmorras onde se tornarão profissionais do crime, feras enlouquecidas, e vos acuso de só prenderem os pobres, sobretudo os pobres e os pretos e, mais ainda, os pobres, pretos e nordestinos.

Eu vos acuso de sustentarem o tráfico de drogas deixando, por omissão, que vossos filhos e filhas, mimados e sem valores, passem pelas bordas das favelas e comprem o veneno que os levará até a agredir trabalhadoras pobres, a queimarem mendigos vivos, a desembestarem pelas ruas com as máquinas infernais que lhes foram doadas por seus papais e mamães tão amorosos.

Eu vos acuso de combaterem com unhas e dentes cada mínima tentativa de direcionar uma fração irrisória de vossas fortunas para o sustento (físico e espiritual) dos miseráveis, e de fazerem isso em um dos dez países de maior concentração de renda do mundo.

Eu vos acuso de pregarem o ódio racial chamando os nordestinos de “baianos” em São Paulo e de “paraíbas” no Rio, mesmo esse indivíduo não sendo da Bahia ou da Paraíba, contanto que tenha traços de negro mais acentuados. Eu vos acuso, pois, de racismo.

E eu vos acuso de negarem o racismo ao escreverem livros dizendo que vós não sois racistas, pois, como sabeis, são raros os negros e mestiços que admitem em vossos palácios e festas.

E vos acuso, por fim, de quererem calar os que vos acusam ao monopolizarem a comunicação de massas, e de terem conseguido fazê-lo completamente por toda a história até que surgisse a internet e não pudessem mais impor censura total.

Por todas essas acusações é que vos digo: vejam só o que fizeram com o Rio, com São Paulo, com Porto Alegre, com Recife, com o país todo ao negarem aos mais pobres a mais tênue esperança de vencer na vida apesar de condição social, cor da pele e região do país.

Agora, colheis o que plantastes. Não reclamai, portanto.

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