FIM DA HISTÓRIA - A QUEM INTERESSA?

Por Cléber Sérgio de Seixas

Tentar perenizar uma situação vigente foi, e sempre será, a atitude das nações hegemônicas para manter seu domínio econômico e cultural frente àquelas que lhe são adjacentes. Impérios vêm e vão nas bifurcações da história. O romano sucumbiu aos “bárbaros” após séculos de hegemonia, e hoje as ruínas da Cidade Eterna não fazem mais que evocar um passado glorioso. No século XVI a Igreja Católica perdeu espaço para os protestantes, mais afinados com os novos tempos. O nazismo presumia que seu III Reich duraria mil anos, e não passou de 12. Da mesma forma, os arautos do “fim da história” apregoam que o neoliberalismo e o american way of life perdurarão por séculos, presumindo que algum tipo de ideologia ou modus vivendi seja eterno.

Se podemos interpretar a história sob princípios hegelianos, enxergaremos uma constante luta entre tese e antítese, numa frenética busca por acomodação (síntese). Assim sendo, é inocente acreditar que daqui a 100 anos teremos shopping centers, ou padrões de consumo nos mesmos moldes que temos hoje. A própria natureza já está tratando de expor as fragilidades de um sistema econômico que, para garantir o consumismo e felicidade de uns poucos, destrói o meio ambiente e garante miséria e privação a uma esmagadora maioria.
Parafraseando Marx, digo que os elementos promotores da destruição de um sistema político-econômico são intrínsecos ao próprio sistema, ou seja, cada sistema carrega em seu bojo os germes de sua própria dissolução. Talvez uma das maiores contradições do sistema capitalista resida no fato de - não obstante a possibilidade de obtenção da riqueza estar aberta a todos - não haver lugares na roda da fortuna para todos, já que precisaríamos de mais de um planeta para garantir o abastecimento, caso cada terráqueo tivesse o mesmo padrão de consumo de um cidadão estadunidense. Se cada chinês fosse possuidor de um carro e resolvesse colocá-lo na rua, é provável que já não tivéssemos mais a camada de ozônio. Em outras palavras, para garantir que a raça humana subsista sob o sistema econômico atual, muitos deverão continuar consumindo pouco ou quase nada para que poucos prossigam consumindo muito, ou seja, o sistema é intrinsecamente excludente, pois pressupõe que nem todos devem ter níveis consideráveis de consumo.

O “fim da história” na concepção de Francis Fukuyama carrega em seu bojo a ideologia das grandes corporações norte-americanas, das quais o supracitado é guru. Pode-se falar em “fim da historia” enquanto existirem as variáveis mundo, tempo e homens? Pode-se falar em neoliberalismo, ou mesmo em capitalismo, como a mais alta expressão de desenvolvimento econômico e social, enquanto milhões padecem sob o manto negro do subdesenvolvimento e seus nefastos desdobramentos? A quem interessa o tão propalado "fim da história"? A quem interessa dizer que esse sistema econômico é o ápice do desenvolvimento econômico?

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