CHÁVEZ VERSUS MÍDIA

Por Cléber Sérgio de Seixas

É difícil, para não dizer impossível, não se deparar, durante a programação diária da televisão gratuita, alguma menção negativa aos governos progressistas da América Latina. Nesse rol incluo Lula, Hugo Chávez, Evo Morales e os irmãos Raúl e Fidel Castro.

É mais que notório o lado que nossa grande mídia escolheu, apesar de arvorar-se como praticante de um jornalismo isento e imparcial. É consensual, no entanto, que a imprensa tupiniquim sempre posicionou-se de forma conservadora, pondo-se do lado de governantes cujas gestões sempre foram pautadas por satisfazer os interesses das classes privilegiadas.

A grande virada à esquerda da América Latina acirrou a tendência da mídia à direita. Um exemplo clássico e bem atual é o recente golpe em Honduras. Nossa imprensa teima em se referir a Roberto Micheletti como "interino" ou "de fato" quando a palavra correta é golpista. Paralelamente, vemos presidentes eleitos democraticamente como Hugo Chávez e Evo Morales, sendo acusados de demagógicos, populistas ou totalitários. No caso dos dois supracitados, por exemplo, é persistente a acusação de se perpetuarem no poder por intermédio de dispositivos como plebiscitos e referendos, mecanismos estes previstos na constituição desses países, tal como na brasileira. Ora, se a democracia prevê que tais mecanismos possam ser utilizados, por que não valer-se deles? É razoável taxar de totalitário o regime chavista e de "interino" o governo de um golpista como Micheletti? Se numa democracia o povo não pode ser consultado, como falar em "poder popular", tradução do vocábulo grego?

Enquanto se processa essa inversão de valores, o presidente colombiano Álvaro Uribe emplacou um projeto de referendo, já aprovado pelo congresso, que lhe possibilitaria concorrer a um terceiro mandato presidencial; tudo sob um silêncio ensurdecedor da grande imprensa latino-americana.

A bola da vez tem sido Hugo Chávez. Assistindo hoje ao Jornal da Band, me deparei com o primeiro episódio de uma série de reportagens intitulada "A Venezuela sob Chávez". Como era de se esperar, apenas uma das partes foi ouvida, qual seja, a burguesia de Caracas - cidade que foi classificada como a segunda mais violenta do mundo. O povão da capital, os moradores dos morros, enfim, aqueles que ameaçam a segurança da burguesia, não tiveram voz nem vez na reportagem de Sandro Barboza. Após assistir, não me contive e redigi este artigo.

Confiram o vídeo abaixo, vejam como é tendenciosa a matéria e prestem atenção ao final, quando um outdoor com a imagem de Che Guevara é exibida, alem das caras e bocas da jornalista. Amanhã gravarei a segunda parte e farei a análise da mesma aqui no blog.


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