A PALAVRA E A PUBLICIDADE

Consumismo: rapaz comemora após adquirir seu IPHONE

Por Eduardo Galeano


Hoje em dia, a publicidade tem a seu cargo o dicionário da linguagem universal. Se ela, a publicidade, fosse Pinóquio, seu nariz daria várias voltas ao mundo.

“Busque a verdade”: a verdade está na cerveja Heineken.

“Você deve apreciar a autenticidade em todas suas formas”: a autenticidade fumega nos cigarros Winston.

Os tênis Converse são solidários e a nova câmara fotográfica da Canon se chama Rebelde: “Para que você mostre do que é capaz”.
No novo universo da computação, a empresa Oracle proclama a revolução: “A revolução está em nosso destino”. A Microsoft convida ao heroísmo: “Podemos ser heróis”. A Apple propõe a liberdade: “Pense diferente”.

Comendo hambúrgueres Burger King, você pode manifestar seu inconformismo: “Às vezes é preciso rasgar as regras”.

Contra a inibição, Kodak, que “fotografa sem limites”.

A resposta está nos cartões de crédito Diner's: “A resposta correta em qualquer idioma”. Os cartões Visa afirmam a personalidade: “Eu posso”.

Os automóveis Rover permitem que “você expresse sua potência”, e a empresa Ford gostaria que “a vida estivesse tão bem feita” quanto seu último modelo.

Não há melhor amiga da natureza do que a empresa petrolífera Shell: “Nossa prioridade é a proteção do meio ambiente”.

Os perfumes Givenchy dão eternidade; os perfumes dão eternidade; os perfumes Dior, evasão; os lenços Hermès, sonhos e lendas.

Que não sabe que a chispa da vida se acende para quem bebe Coca-Cola?

Se você quer saber, fotocópias Xerox, “para compartilhar o conhecimento”.

Contra a dúvida, os desodorantes Gillette: “Para você se sentir seguro de si mesmo”.

Publicado originalmente no site Carta Maior

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