A NOSTALGIA COMBATENTE DE TÚPAC AMARU


Em 18 de maio de 1781, era assassinado o líder indígena Túpac Amaru. O jornalista Eduardo Galeano - de quem sou fã de carteirinha - assim apresentou o episódio:


Os indígenas eram, como diz Darcy Ribeiro, o combustível do sistema produtivo colonial. "É quase certo - escreve Sérgio Bagú - que às minas espanholas foram lançados centenas de índios escultores, arquitetos, engenheiros e astrônomos, confundidos entre a multidão escrava, para realizar um tosco e esgotador trabalho de extração. Para a economia colonial, a habilidade técnica desses indivíduos não interessava. Eles só eram contados como trabalhadores não qualificados". Mas não se perderam todos os sinais daquelas culturas destruídas. A esperança de renascimento da dignidade perdida incendiaria numerosas sublevações indígenas. Em 1781, Túpac Amaru sitiou Cuzco.

Este cacique mestiço, descendente direto dos imperadores incas, encabeçou o movimento messiânico e revolucionário de maior envergadura. A grande rebelião estourou na província de Tinta. Montado no seu cavalo branco, Túpac Amaru entrou na praça de Tugasuca e, ao som de tambores e pututus, anunciou que havia condenado à forca o corregidor real Antonio Juan de Arriaga, e dispôs a proibição da mita de Potosí. A província de Tinta estava ficando despovoada por causa do serviço obrigatório nos socavãos de prata da montanha. Poucos dias depois, Túpac Amaru expediu um novo comunicado pelo qual decretava a liberdade dos escravos. Aboliu todos os impostos e o repartimiento de mão-de-obra indígena em todas suas formas. Os indígenas se juntavam, aos milhares, às forças do "pai de todos os pobres e de todos os miseráveis e desvalidos". À frente de seus guerrilheiros, o caudilho lançou-se sobre Cuzco. Marchava pregando seu credo: todos os que morressem sob suas ordens nesta guerra ressuscitariam para desfrutar as felicidades e riquezas de que tinham sido despojados pelos invasores. Sucederam-se vitórias e derrotas; no fim, traído e capturado por um de seus chefes, Túpac Amaru foi entregue, amarrado com correntes, aos espanhóis. Em seu calabouço, entrou o visitador Areche para exigir-lhe, em troca de promessas, os nomes dos cúmplices da rebelião. Túpac Amaru respondeu-lhe com despreço: "Aqui não há mais cúmplice do que tu e eu; tu por opressor, e eu por libertador, merecemos a morte".

Túpac foi submetido a suplícios, junto com sua esposa, seus filhos e seus principais partidários, na praça do Wacaypata, em Cuzco. Cortaram-lhe a língua. Amarraram seus braços e pernas em quatro cavalos, para esquartejá-lo, mas o corpo não se partiu. Decapitaram-no ao pé da forca. Enviaram sua cabeça para Tinta. Um de seus braços foi para Tungasuca e o outro para Carabaya. Mandaram uma perna para Santa Rosa e a outra para Livitaca. Queimaram-lhe o tronco e jogaram as cinzas no rio Watanay. Recomendou-se que fosse extinta toda sua descendência, até o quarto grau.

GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. 29ª edição, Paz e Terra, Rio de Janeiro, p. 55-56. 1989

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